segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O mundo ainda é plano?

Estamos vivendo a desconstrução da famosa globalização a despeito de observarmos cada vez maior número de paradoxos aos quais a dita cuja ainda a permeiam. Quanto ao mundo, ainda pode ser considerado bem redondo. Mentira estarmos todos conectados, vagando em uma rede plana. Discutem esta questão grandes pensadores e intelectuais. Somos surpreendidos a toda hora pelo imponderável. Ataques terroristas, suicídio e suicidas destruidores, o ódio nunca esteve tão grudado e confundido com o amor. Do lado oposto segue a indiferença, rara e saudosa. Parece que estamos compelidos a nos posicionarmos. Quanto mais não seja, todos os dias temos uma rede social famosa nos perguntando: “O que você está pensando?” e seguimos dando respostas a um anônimo, público e interlocutor inexistente. Há, mas não existe. É nisso que estou pensando, curioso de não sei o quê.

sábado, 12 de agosto de 2017

My Triloved Brother Samuel

No dia 12 de Agosto de 1977, o menino mais esperado e pedido aos céus se atrevia a sair do confortável útero da mãe Hélida. Época remota a nossa, quando as mães aguardavam ansiosas o parto para saberem qual seria a cor do pagãozinho. Este nome me provoca cógecas. Lembra que nós nascemos pagãos, chorões e nem sempre belos. Na verdade, na maior parte das vezes, menos belos que a fantasia de nossos pais. Não estava lá, em meus três anos, não poderia mesmo lembrar de ter estado. Portanto, coloco as asas da imaginação para voarem até aquele quarto de hospital onde mais um carioca viria ao mundo. Escrevo isso e já me detenho: não era “mais um” - era o único a quem chamaria de irmão. Privilegiada pela saúde dos irmãos do meio, roubei o trono onde Vivi reinara por cinco anos e um bebê enrolado em cuieiros viria agora roubar o meu breve reinado de filha caçula. Não sabia eu, e nem tampouco sei hoje se foi por esta razão que minha vida pessoal e profissional dá-se em ciclos de dois anos e meio à três anos. Fico crispada ao pensar que este primeiro trauma pode ter inconscientemente, determinado uma numerologia cabalística personalizada. Samuel. Samuel. Nome que pronunciei milhões de vezes nos apertos da vida, nome que só de ser ouvido acalma meu espírito indócil. Você é mais que um amigo. Mais que sangue do meu tipo. Oh...positivo. Às vezes, negativo, insiste em tirar minha cabeça das nuvens e recolocar meus pés no chão. Você, Samuca, é a parte que falta em mim e sobra em você de temperança e calma. Equilíbrio, força, humor, honestidade e, porque não dizer, fofura. Toda esta alquimia faz de você o que eu sempre agradeço por ter sido concedido por Deu. Tenho certeza que, desde quando as famílias começaram a ser forjadas na civilização humana, os pais e filhos representavam sempre uma bela imagem. Mas nossos irmãos são, sim, o espelho de nossas almas. Nossos pais nos viram crescer mas dificilmente nos verão perecer. Os filhos que geramos vão provavelmente, nos perder em algum momento da vida que, por mais tardio que pareça, será inexoravelmente cedo. Os irmãos não. Estes partilham momentos, piadas, abobrinhas e angústias que são para sempre coisa de irmão. É coisa de irmã dar mamadeira de perfume, incentivar o menino a subir na pia para ganhar um colo que te custou uns pontinhos na cabeça...é coisa de irmã inventar histórias, brincadeiras, fazer capuz para smurfs com a parafina dos rechauds de jantares chiques. É coisa de irmão defender a irmã como se mais velho fosse. É coisa de irmão ser o único ser confiável em um momento de desespero. Ser assim como você é! Bem vindo aos quarenta, meu caçula, meu denguinho, nossa rapinha de angu e nossa raspinha do tacho. Todos nós te amamos mas hoje, que estou eu com a palavra, posso dizer que te amo. Te amo tanto que nem sei...beloved isn’t enought. Triloved is you!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A linguagem do Inconsciente

Uma das mais festejadas frases de Jacques Lacan é: “O inconsciente se estrutura como uma linguagem”. No texto anterior, valorizamos o aspecto matemático e refletimos sobre a ilusão que carrega a quantificação. Quando um executivo apresenta o orçamento para o próximo ano de uma determinada empresa com crescimento de 30% no faturamento ao longo dos meses poderá fazer brilhar os olhos dos acionistas e funcionários elegíveis a bônus. Eles se deixarão iludir mesmo estando cientes das projeções de PIB negativo para o ano em questão. Não é porque são números que é verdade. Números são como palavras – igualmente ilusórias e passíveis de diferentes interpretações. Não entendo um psicólogo que seja avesso a números. Conhecer estatísticas sobre o comportamento, dados como os que estão disponíveis na última pesquisa do IBGE, ajudam a apurar nossa escuta e iluminar nossas teorias e, sobretudo, nossa prática. De igual forma, não entendo psicanalistas lacanianos ou de qualquer outra escola que não se interessem pela linguagem e suas manifestações. Sejam no campo das letras e artes, seja pelo estudo comparado dos idiomas. É impossível ignorar a influência da língua alemã na obra de Freud ou do francês nos escritos de Lacan. Ou dos impactos de cada tradução. No caso do Seminário 11, feita pelo mestre MD Magno – que teve o privilégio de ser analisando de Lacan. Na primeira aula sobre este livro discorremos brevemente sobre a biografia do autor e o contexto da obra. Falamos também sobre as escorregadelas que permitiram ao fundador da Psicanálise se dar conta de que havia um inconsciente passível de ser observado através delas. Os sonhos, os chistes (piadas) e os ato-falhos seguem nos surpreendendo com um conteúdo desconhecido, que não sabíamos que estavam ali. Em cada língua, as palavras têm origens, sonoridade, ideias subjacentes diferenciadas. Tomemos, por exemplo, a questão da memória ou melhor, das falhas desta. É impossível lembrar de tudo. Há uma frase interessante de Freud: “esquecemos tudo aquilo que não podemos lembrar” pode, a princípio, parecer um pleonasmo. Mas se reparamos no verbo “Esquecer” temos em francês “j’oublie”. Em português “Eu esqueci”. Vejam em inglês “I forgot”. Acerca de objetos perdidos, muitas vezes o falante não utiliza o verbo forgot e sim a expressão “I misplace” isto é, não perdi apenas me esqueci do lugar que coloquei. Poderíamos continuar com este estudo comparado de forma profícua. A própria denominação “aluno” deixei de usá-la após descobrir que trata-se no sentido etimológico da palavra “sem luz” – talvez uma herança da influência religiosa nas primeiras escolas organizadas. Passei a adotar apenas estudantes, similar ao “students” Em françes, tem a beleza de remeter ao verbo elevar – l’élèves. Durante todo este na, vamos falar e escrever sobre os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, pinçados por Lacan: Inconsciente, Pulsão, Repetição e Transferência. Entre tantos outros foram destacados nesta obra tão difícil quanto apaixonante.