quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mal Dito Adultério

Caro Jesus Cristo,

Estou lhe escrevendo esta carta em primeiro lugar porque ninguém mais escreve cartas e sinto saudades delas. Se fosse um email mandaria com cópia para o Pai e o Espírito Santo. Mas como vocês três são um só, preferi me dirigir ao Senhor, que já viveu aqui pela terra em corpo e provalvelmente conheceu mais de perto as agruras de ser humano.

Estas modernidades da internet, google e etc são ótimas mas ainda bem que nosso irmão Paulo escreveu cartas às igrejas. Imagine o twiter, o facebook ou a comunidade dele no orkut.

Ultimamente, tenho lido a bíblia em Linguagem de Hoje (1988) que tem frases lindas. As poesias de Davi ficam muito mais belas e os proverbios de Salomão ainda mais claros. Como Você sabe, o hebraico e o aramaico já eram, o grego ainda temos mas é tão complicado que quando queremos dizer que alguém está com problemas de comunicação dizemos que estão falando grego...

Os 10 mandamentos continuam lá, no mesmo endereço, em êxodo 20. Há 5.000 anos mandando as mesmas coisas. Não mate, não roube, não minta, não idolatre, não cobice, não adultere. Bons conselhos, felizmente, a maioria deles é de caráter não absoluto. De lá para cá muita coisa lhes foi acrescentada. Um bom exemplo é o não matarás - matar em legítima defesa, tudo bem. Se no crime não houve a intensão ou pré-meditação, é culposo. Eis um exemplo de ironia linguística - sempre achei que deveriam mudar este nome. Culposo parece vir de culpa.

E assim vamos tentando regulamentar esta bagunça com o código civil, penal, constituição, direito do consumidor e todas estas coisas. Desde que nosso irmão Einstein falou em relatividade nunca se relativizou tanto como nos tempos atuais.

Mas lhe escrevo para discorrer acerca do adultério. Este assunto tem sido muito mal dito, daí o título da carta. Não apenas dentro das igrejas mas também fora delas.

Li em um jornal, daqueles que só um pedacinho da notícia já serve, que uma mulher está sendo condenada à morte por ter sido pega em flagrante adultério. Em pleno 2010, Jesus Cristo! Sei que você se lembra da moça que perdoou outro dia. Como Você pode observar do alto da beira da piscina celestial, a humanidade não vai muito bem e acredito que Você deve chorar pela dureza dos nossos corações.

Temos visto que a falta do perdão nestas situações, destroi famílias inteiras que viviam em harmonia, quando não em amor verdadeiro. O adultério certamente não é o maior problema que um casal pode enfrentar.

Mas quando não tem jeito mesmo, tudo está bastante mudado em relação a separações, divórcios e recasamentos. E se multiplicam todo o tipo de combinações nas famílias modernas.

O Senhor deve se recordar que a briga entre irmãos é tão antiga quanto a humanidade. Quando os pais são ambos oriundos de um primeiro casamento, temos como já comum a situação-título de comédia “Os meus, os seus e os nossos”. Quando é motivo de comédia ainda estamos no lucro...

Sempre entendi a poesia de Paulo aos Coríntios número 13 e sua afirmação que o amor jamais acaba à minha maneira. Ele não acaba. Ele circula, muda de objeto, se reinventa, toma outros rumos mas como diz aquela música para crianças mesmo?

“Love is something if you give it away, you end up having more...it’s just like a magic penny. Hold and tide and you won’t have any. Lend it, spend it and all so many…they roll all over the floor…”

O ódio ao amor também continua em alta. Como escrevia seu filho Nelson Rodrigues (1960/RJ) em uma de suas melhores frases que o amor verdadeiro é perseguido como uma ratazana gorda. Aproveito o ensejo para mandar meu abraço para o Nelson aí na morada celestial.

Bom, me despeço já envergonhada de ter tomado tanto o seu tempo precioso. Por fim, apenas mais dois pedidos: que os políticos brasileiros eleitos na semana passada não desobedeçam tanto o não roubarás e que cada cidadão comum, em sua missão diária ajude a propagar Seu Amor pelo próximo deixando este mundo mais habitável até Seu retorno.

Um grande abraço,
De sua irmã,

Liliane Cunha
15 de Setembro de 2.010

3 comentários:

  1. Voltou afiadíssima...
    Vida longa ao Blog.

    Bj

    Assuero

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  2. Lili, que bom que vc voltou a escrever...gostei desse texto, sinal de que vc voltou de verdade...confesso que tudo que mistura religião e fé, mexe demais comigo, e sempre tenho mais perguntas do que respostas..mas isso eh outra história..que eu ainda quero escrever ..alias pensei nisso esses dias..Quero escrever sobre d'us...e vc é uma das pessoas com quem quero compartilhar essa experiencia... mas falando desse texto, gostei de duas coisas que vc citou e relacionou muito bem, Amor e Perdão..Não sei quem vem primeiro, Se perdoamos para amar, ou se amamos para perdoar..complexo isso...mas ja tenho uma duvida em relação a essa questão..Sempre me pergunto se esta faltando amor entre as pessoas ? por que vejo tanta gente mais preocupada em punir do que perdoar ? Eu mesmo, que não sou santo, nem recebi carta do Espirito Santo, tenho essa dificuldade na prática. Acho que o perdão é o ponto mais próximo do AMOR..bjs e se cuide !!!

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  3. Obrigada pelo comentário. Tb não recebi carta do Espírito Santo mas posso mandar...rsrsr

    Para falar de amor adoro o cristianismo e o anarquismo. Mas quando o tema é perdão prefiro filosofia oriental.

    Quando Buda falou deste tema foi PERFEITO!!!
    Um dia, certo homem o ofendeu. Ele não reagiu, já iluminado, e deixou-o ainda mais furioso.
    No dia seguinte, em lágrimas, o homem implorou o perdão. Ele respondeu que tal coisa seria impossível porque nem ele era o mesmo homem nem o agressor após o arrependimento. Portanto, não havia o que perdoar.

    Uma resposta meio heráclito com a história do rio mas me serve.

    Sou capaz de perdoar e esquecer quase tudo que me fizeram. Sair da posição de vítima e fazer análise tb ajuda, né?

    I'm back...e feliz por isso.

    Bjs,

    Lili

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