terça-feira, 25 de agosto de 2015

Charles Chaplin

"Desculpem-me, mas eu não quero ser um Imperador, esse não é o meu objectivo. Eu não pretendo governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar a todos, se possível, judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós queremos ajudar-nos uns aos outros, os seres humanos são assim. Todos nós queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria alheia. Não queremos odiar e desprezar o outro. Neste mundo há espaço para todos e a terra é rica e pode prover para todos. O nosso modo de vida pode ser livre e belo. Mas nós estamos perdidos no caminho. A ganância envenenou a alma dos homens, e barricou o mundo com ódio; ela colocou-nos no caminho da miséria e do derramamento de sangue. Nós desenvolvemos a velocidade, mas sentimo-nos enclausurados: As máquinas que produzem abundância têm-nos deixado na penúria. O aumento dos nossos conhecimentos tornou-nos cépticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco: Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. O avião e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas invenções clama pela bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Mesmo agora a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Para aqueles que me podem ouvir eu digo: "Não se desesperem". A desgraça que está agora sobre nós não é senão a passagem da ganância, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano: o ódio dos homens passará e os ditadores morrem e o poder que tiraram ao povo, irá retornar ao povo e enquanto os homens morrem [agora] a liberdade nunca perecerá… Soldados: não se entreguem aos brutos, homens que vos desprezam e vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, vos dizem o que fazer, o que pensar e o que sentir, que vos corroem, digerem, tratam como gado, como carne para canhão. Não se entreguem a esses homens artificiais, homens-máquina, com mentes e corações mecanizados. Vocês não são máquinas. Vocês não são gado. Vocês são Homens. Vocês têm o amor da humanidade nos vossos corações. Vocês não odeiam, apenas odeia quem não é amado. Apenas os não amados e não naturais. Soldados: não lutem pela escravidão, lutem pela liberdade. No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito: "O reino de Deus está dentro do homem" Não um homem, nem um grupo de homens, mas em todos os homens; em você, o povo. Vós, o povo tem o poder, o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Vós, o povo tem o poder de tornar a vida livre e bela, para fazer desta vida uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos unir-nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que vai dar aos homens a oportunidade de trabalhar, que lhe dará o futuro, longevidade e segurança. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder, mas eles mentem. Eles não cumprem as suas promessas, eles nunca o farão. Os ditadores libertam-se, porém escravizam o povo. Agora vamos lutar para cumprir essa promessa. Lutemos agora para libertar o mundo, para acabar com as barreiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão, um mundo onde a ciência e o progresso conduzam à felicidade de todos os homens. Soldados! Em nome da democracia, vamos todos unir-nos! Olha para cima! Olha para cima! As nuvens estão a dissipar-se, o sol está a romper. Estamos a sair das trevas para a luz. Estamos a entrar num novo mundo. Um novo tipo de mundo onde os homens vão subir acima do seu ódio e da sua brutalidade. A alma do homem ganhou asas e, finalmente, ele está a começar a voar. Ele está a voar para o arco-íris, para a luz da esperança, para o futuro, esse futuro glorioso que te pertence, que me pertence, que pertence a todos nós. Olha para cima! Olha para cima!" (Tradução, Fernando Barroso)

Lágrimas por trás do sorriso

Nasci em Londres. Parece glamouroso para quem ouve mas como em toda grande cidade, quem vai apenas nos pontos turísticos pouco ou nada sabe do que significa viver lá. Minha mãe se chama Hannah nome que está na bíblia. Soube depois que era nada menos do que a avó do que os cristãos acreditam ser o Messias. Moramos eu, minha mãe e meu irmão mais velho. Ele se chama Sidney. Nossa casa fica perto de Lamberth. Minha mãe foi abençoada ou amaldiçoada por dois dons: cantar e amar. Amou o pai do meu irmão e depois meu pai. Não é fácil acertar no casamento. É o que penso. Hoje tenho oitenta e sete anos e entendo perfeitamente minha mãe. Tarde demais. Ela era bastante brava, estourada, impaciente mas também intensa, emotiva e forte quando precisava. Um problema na laringe tirou sua profissão de cantora e os amores frustrados e lutas terminaram por agravar o que os médicos chamaram de uma depressão nervosa quando a internaram. Nada que eu já não soubesse intuitivamente como filho. Comia pouco, reclamava muito. Chorava sempre. Quando isso aconteceu, eu e Sidney tivemos que morar um tempo em um asilo para crianças. Foi um período duro mas nós sobrevivemos. Tentamos também morar com meu pai e sua nova mulher. Mas isso foi mais difícil ainda. Ele tinha problemas sérios com o álcool. Quando eu tinha 12 anos meu pai morreu. Provavelmente de doenças ligadas a seus péssimos hábitos. Ganhei o nome do meu pai. Mas felizmente acho que somente o nome. Meu pai morreu jovem e foi enterrado, sem nome em lápide, em uma cova comum. Demorei muito para me casar. Só o fiz quando me senti realmente apaixonado. Ela se chamava Mildred e tinha apenas 16 anos. Nossa união durou apenas dois anos de felicidade. Quando tinha trinta anos, recebi a notícia de que seria pai pela primeira vez. Demos a menina o nome de Norma mas ela nasceu no dia 07/07 com problemas graves de saúde. Eu sofri. Mildred sofreu muito mais. E, em apenas três dias, no dia 10/07, perdemos a pequena Norma. Depois disso, ainda permanecemos juntos por mais dois anos. de mais sofrimento em comum do que propriamente amor. Sabia que a vida seguiria em frente. Ele sempre segue.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Não sei onde estou indo, mas sei que estou no meu caminho...


Holy Days

Preciso avisar aos meus escassos leitores que estou em férias de 14/08 a 24/08/15. O descanso é algo que faz parte do nosso sucesso como seres humanos. O ócio para alguns interpretado como tédio revelam as dádivas provenientes de não fazer nada. Só existir e usufruir da nossa gentilidade. Sentar embaixo de uma árvore, sentir a respiração. Observar cerimoniosamente os elementos da natureza que diariamente desprezamos. O final de semana, os feriados e, principalmente as férias nos convidam a cruzar os braços e pernas e promover uma pausa entre as canções. Holliday significa dia santo se separarmos as palavras. O trocadilho se aplica desde a narrativa bíblica do Gênesis. Deus mesmo teria tirado umas férias para descansar da genial tarefa de criação do planeta Terra. Para além do cansaço físico e mental que necessita ser aliviado. Preserve sempre o sagrado direito ao seu dia santo. è um direito de todo trabalhador e um conselho sábio para a sanidade. Tenho um amigo querido que usa o relógio na mão direita como eu mas dispensa o artefato no final de semana. Executivo de sucesso e pai de um lindo casal de filhos corre atrás dos minutos e horas. Não almoça nem toma café sem segundas intenções - orientar um colaborador ou fechar um bom negócio. Aproveita todos os momentos para consultar os relógios do celular, do computador e do pulso. tictactictactictac....tempo é dinheiro. Dinheiro não é tudo. Sabemos disso mas não colocamos em prática. Seria nosso maior bem. O ativo mais precioso de um ser humano. Tenho viva na lembrança um professor de matemática financeira. Explicava de forma primorosa o valor do dinheiro no tempo. Gostava de instigar os alunos perguntando: "Vocês querem um milhão de dólares hoje ou daqui há um mês?" Nossos olhinhos ambiciosos brilhavam ante a quantia sonhada. Quem não quer ser um milionário? Só aqueles que desejam ser bilionários..."Hoje! Hoje! - exclamávamos internamente. Boa resposta. Mas não tão boa considerando a valorização de 12,35% e a inflação de 10% em reais no período. Quem queria o dinheiro hoje perderia uma bela oportunidade. Quanto a mim, acho que nem faria o câmbio automaticamente de toda a quantia. Provavelmente na semana ou no mês seguinte ainda fosse a feliz proprietária de novecentos mil dólares valorizados. Mas, contas a parte, talvez a equação mais difícil e mais complicada conheci no Ibmec São Paulo com o mestre Eduardo Giannetti. Como distribuir recursos escassos de tempo e dinheiro de forma mais inteligente. As escolhas de ir à pé, fazer exercícios, comer doces, dormir mais ou menos...ir para o trabalho à pé ou de ônibus. Casar ou comprar uma bicicleta. Fazer os dois. O tempo todo fazemos escolhas e contas com o nosso tempo. Na hipótese anterior se para ter o direto ao bendito prêmio de um milhão de dólares você precisasse ficar confinado em um quarto por dez anos ou perdesse uma perna, você faria o acordo?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Família

Quando era estudante de Psicologia na UFRJ em 1994 conheci, na Faculdade de Cinema, um tipo de Psicanálise que mudaria minha maneira de ler Freud e, ainda mais importante, eu mesma. O mestre havia feito análise com Jacques Lacan, um psicanalista pra lá de famoso, que propôs uma releitura, um retorno a Freud atualizando de forma complexa os conceitos temperados com linguística e matemática. MD Magno era o nome do professor, sempre vestindo preto. Muitas vezes com um colarinho clerical. Cabelos brancos, tênis nos pés. Dentre tudo que era dito o que fez meus olhos brilharem mais intensamente foram os impérios: cinco impérios ao todo - do Pai, do Filho, Do Espírito Santo e, finalmente, do Amém. Para uma presbiteriana de nascimento eram termos conhecidos. Estes mesmos impérios se refletem também na história da família e da humanidade. Como a Macroeconomia obedece às mesmas leis da microeconomia, aprenderia mais tarde. A família pode estar gozando de uma certa desordem mas ontem meus quase oitocentos amigos do Facebook estavam obedecendo ao antigo mandamento de honrar o Pai e a Mãe. Desde homenagens pos mortem. Claro reconhecimento do lugar do pai e da figura paterna - seja este um exemplo ou como Nelson Rodrigues chamaria, um pulha. Pais violentos, descontrolados, viciados, incestuosos, irresponsáveis são alvo de uma espécie de perdão coletivo - da compaixão no entendimento de que o Pai Herói pode ser também um bandido. A omissão do dever paterno, também foi sobremodo abordado. Pais que deixam cair toda a responsabilidade de proteger e criar os filhos sobre as mulheres são crucificados pela massa digital. A lógica que rege os compartilhamentos revela um fenômeno muito humano e antigo: tomar partido. Não estou me referindo a política. Longe de mim. Não escrevo sobre o que desconheço. Falo da adesão das ideias sobre as pessoas e o movimento quase fluvial das multidões fenômeno que já fora bem catalogado pela Antropologia e Sociologia nos eventos reais como estádios de futebol ou shows de rock. Voltemos a família. A dita "célula mater" da sociedade estaria realmente enferma ou moribunda? Ameaçada pelos entusiastas de uma dissolução desta? Ou mesmo os casamentos entre pessoas do mesmo gênero ou da adoção responsável estariam procurando reproduzir o modelo familiar nosso velho conhecido? Tenho mais perguntas que respostas. Ainda bem.

Hugo Wilson Bernabé

O artista plástico de apenas 21 anos apresenta sua 1a Vernissage nos dias dezenove e vinte de setembro na ACM Lapa/RJ com obras exclusivas que revelam a conexão e importância da fé em sua vida e arte. Texto feito sobre o artista para o Instituto Reverendo Guilhermino Cunha - patrocinador do evento. "Começou a pintar com apenas 12 anos e, dispondo de poucos recursos, teve a ideia de utilizar uma das bebidas mais populares de nosso Brasil como tinta. Apenas com café solúvel e tinta preta produzia cada vez mais obras apenas com o talento nato e o apoio da família e amigos. As telas eram produzidas sobre algodão cru e o chassis construído pelo próprio artista. Pinceis rústicos e muita emoção é a matéria prima de uma arte de urgência. Hugo Wilson - como prefere ser chamado é dotado de uma sensibilidade e riqueza de expressão ainda não moldado por técnicas. Admira e estuda sua arte vivendo, experimentando, observando as exposições e de uma maneira simples e honesta se comunica com seus traços firmes que revelam seu fascínio e apreensão diante da vida".

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Caso ad.03

De repente, estou na sala de espera de uma clínica psiquiátrica. Não é exatamente isso mas tem psiquiatras aqui. Minha mãe quer que eu converse com um deles. Isso acontecu porque travei na semana passada. Estava indo para o ponto de ônibus porque chovia muito. Quando está um dia claro, vou à pé mesmo. Mas não estou gostando muito da nova escola. Nada desesperador. Ou melhor, mesmo que não concorde com isso - o desespero veio. Tentei convencê-la que psiquiatra era coisa para gente doida, maluca mesmo e que eu não me sentia doida. Me sentia doída. Percebem a diferença que um acento faz. Às vezes, as pessoas mais velhas ou adultos em geral dizem que estou na fase mais linda da vida, que aproveite e blá, blah blah...Só pode ser brincadeira. Tenho fotos de quando eu era bebê espalhadas pela minha casa. Aquilo era ser linda. Como alguém pode achar lindo espinhas pelo rosto, um peito que não cresce de jeito nenhum, um cabelo que deveria ficar lindo com o que gasto com ele (mas não fica) e um par de pernas finas...meu deus do céu! Mas acho que compreendo um pouco o que eles dizem. Daqui pra frente vai piorar muito.Quando falo ou penso isso me sinto meio depressiva. Tenho que me lembrar de não usar este termo com o médico. Não sei quando começou. Acho que o médico deve perguntar isso. Ou vai me pedir para radiografar ou fazer uma tomografia do cérebro. Isso pode ser interessante. Penso nos filmes onde aparecem estas máquinas que parecem túneis brancos e sorrio. Minha mãe repara no meu sorriso e pergunta de novo se estou nervosa. Eu não - digo, pensando que ela deve estar mais nervosa que eu. Sei bem que a vida dela não tem sido fácil. Volta do trabalho todo dia reclamando, do transito, da chefe, de ter chegado tarde, dos outros vendedores. Mas penso que ficou pior agora. Depois que ela descobriu que tem um problema. Não sei direito qual é mas deve ser um dos grandes. Fico imaginando mil coisas. Antes ela tivesse me contado. E se ela morrer e me deixar sozinha. Me acho um monstro mas, às vezes, fico imaginando isso. Eu morreria de medo mas acho que me sairia bem. Pularia ou dois próximos anos do ensino médio. Moraria com a minha vó. Minha irmã mais nova é filha do meu padrasto. Ela ficaria com ele. E eu seria expulsa por não fazer mais parte da família. Azar o meu. Ou sorte a minha. Mordo os lábios para não rir de novo. Me dá vontade de chorar de pena de mim. Poderia morrer eu. Olho para a mão da minha mãe. Meu nome é chamado alto como para me salvar destes pensamentos. Seguro a mão gelada e entro na sala do médico. (continua...)

Não leia este post

Nosso querido cérebro não consegue entender a palavra NÃO. Não pensem que estou falando de toda aquela complexa reflexão sobre a transgressão ou a traição. Também não estou falando das mulheres que só dizem sim ou dos pais que não conseguem dar limites aos filhos. Meu objetivo aqui é, por assim dizer, mais rastaquera: o NÃO é tão usado quanto inútil. Não acredita? Faça você mesmo o teste: quando acabar de ler este texto. Faça qualquer coisa menos fechar os olhos e imaginar um elefante rosa em um banquinho. Posso advinhar? Nem acabou de ler o texto e você está rindo do seu elefante.