sábado, 12 de dezembro de 2015

Gitá - Versão Traduzida e Revisada/ SOS.W.M - BR

Desde o começo dos tempos o Homem, busca por uma resposta definitiva. - Foi dada. - Hoje, eu darei mais uma vez. Às vezes, você me questiona por que eu sou tão calado. Eu, falo de amor... Não se isole e sorria ainda que em pedaços. Você pensa em mim o tempo todo Você me come, me vomita e me deixas. Venha à frente e veja através de suas orelhas Porque hoje testarei a sua visão. Eu sou a estrela das estrelas luminosas Eu sou um filho da lua Eu sou o seu odiado de amor. Eu estou muito atrasado e muito cedo. Sim, Eu tenho medo do fracasso. Eu sou o poder da vontade. Eu sou o blefe do jogo. Eu sou; me movo e fico parado. Sim, eu sou o seu sacrifício. Eu sou o cartaz que diz: “Proibido”. Sangue nos olhos do vampiro. Eu sou a maldição não desejada. Sim, eu sou o negro e o índio Eu sou o WASP (White Anglosaxon and protestant) Eu sou O judeu. Eu sou a Bíblia e o tarô ou i.ching. O vermelho, o branco e o azul. Por que você me faz perguntas? - Perguntar é não ir ao show. Eu sou, eu fui e eu vou... Eu sou todas as coisas na existência. Eu sou, eu fui e eu irei. Você me tem com você para sempre. Sem saber se é mau ou bom. Mas, saiba que eu estou em você. Por que você não me encontra na floresta. Pois eu sou a ponta do telhado. Eu sou o peixe e o pescador. Há... É a primeira letra do meu nome. Sim, eu sou a esperança do desejoso. Eu sou a dona de casa e a prostituta. Caçando no mercado sem dormir. Eu sou o diabo na sua porta. Eu sou o raso, largo e profundo. Eu sou a lei do Thelema. (o pentagrama) Eu sou a preza do tubarão. Eu sou os olhos do cego. Eu sou a luz nas trevas. Oh, sim, eu sou o amargo na sua língua. Mãe, pai e o enigma. Eu sou o filho ainda por vir. Sim, eu o começo, o fim e o meio.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pitaco

Quando eu fui a Nova York visitar a minha vó...ela me ensinou a dançar o Chap chap Se fosse americana meu voto (secreto) seria na Hillay. Não a conheço pessoalmente mas o marido parecia interessante. Tampouco provei do presidente mas a estagiária provou e até comprovou pela Mancha no Vestido Ps. Não me lembro da cor que era o Tal Vestido # Jack - O Lacan

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Sem Título

Prezados Leitores, Gostaria de escrever algo marcante hoje. Para quem estiver contando comigo este é o 100* post do meu Blog. Vou pedir licença ao lugar comum de dedicatórias óbvias, e dedica-lo a alguém que só tem sentido para eu mesma. Meu antigo superintendente da área de produtos e Capitalização do Unibanco. Sr. Rozallah. Como o próprio nome indica trata-se de um "presente de deus" é apenas um dos muitos que recebi mas no período que trabalhei com ele em São Paulo foi de extrema importância na minha formação como trader (Juntamente com o Sr. Alberto). Gosto muito de nomes de homem com características hermafroditas. Quando alguém de fora da área nos telefonava por alguma razão, muitas vezes pediam para falar com a Sra. Rosala. Ríamos desta confusão naturalmente. Em uma reunião de planejamento com Sr. Braga fazíamos um humor fino entre nós. Ser humano correto. Família belíssima - conheci a esposa e os filhos pessoalmente - e olhos claros, como sempre. Sem mais para o momento. Liliane.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A Regra do Jogo

Quase não vejo novelas hoje em dia. Na adolescência, literalmente inundei meu cérebro com suas tramas. São mentiras, o bem e o mal em sua forma mais evidente, mortes, traições e intrigas. Os ricos são esmagadores milionários e tomam um café da manhã de hotel cinco estrelas, servido pela criada. Mas, às vezes, e muitas delas, perdem a fome diante do banquete, tomam um café preto e saem correndo para resolver falcatruas intermináveis nas empresas das quais nós, meros expectadores, só conhecemos a sala da diretoria. Digo "como meros espectadores" e já me arrependo: não assistimos novela no Brasil. Nós a seguimos. Ou por outra, ela nos segue. O último sucesso realmente repugnante foi conseguido pela bem escrita Av. Brasil - nome de uma das vias mais interessantes do Rio de Janeiro. Para que serve segui-la senão para contaminar nosso raciocínio sobre a realidade de forma a sobrepor ares de romance a por vezes tão repetitiva realidade. Falei dos ricos de novela mas os menos favorecidos também são confeitados com uma aura que lembra os tempos da Idade Média. Quando ser carente de recursos materiais era, por assim dizer, uma deslavada bênção de Deus. Os ricos não veriam o reino dos céus e o filho de Deus nunca escondera uma certa preferência por eles em sua temporada na terra. Ou seja, nos afeiçoamos e até nos sentimos mais felizes nas casas decoradas com uma simplicidade ululante e moradores de caráter inabalável. Exceção feita aos que sofrem do pecado absolutamente perdoável da ambição. Mulheres e homens que não hesitam a usar sensualidade e a sagacidade para aplicar golpes nos mais abastados. Em uma espécie de Robin Hood eticamente duvidoso mas nem por isso menos admirado. E, assim, vamos nos enrolando nas tramas da novela. As histórias que inicialmente pareciam distantes e desconexas vão se transformando em uma via onde vários ramos de estrada se entrecruzam em uma logística bela e perigosa. De minha parte, fico reticente em me envolver mais do que devo. Vejo, quando posso, a entrada. que, mais das vezes, é uma obra de arte à parte. A música escolhida para combinar com as imagens beiram à perfeição. A entrada da novela representa e tipifica o sucesso da mesma. Com esta trilha sonora esperaremos o que nos reserva o capítulo de hoje e no mesmo dia presenciaremos o fechamento emocionante ou de pura decepção ou espanto com as mesmas imagens e outra música ao fundo. Não entendo porque o motivo de tal mudança. Gostava mais na minha época em que o capítulo tinha uma moldura simétrica. mas os produtores devem ter lá suas razões para esta alteração. Eis o que queria dizer: minha vida real ou onírica toma ares de novela. Peguei o título emprestado desta. Admirei a abertura com peças de xadrez e explosões como se a alguns cumpre obedecê-las e a outros, desafiá-las. Peço licença aos meus leitores para me aventurar em algo parecido com uma traminha ou um trauminha. Começaremos semana que e terminaremos sabe-Deus-quando. Espero não decepcioná-los com minha mente alimentada a filmes e novelas há mais de 30 anos.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crente que faz análise

Que ironia. Minha mãe me presenteou com um "Diário da Mulher Vitoriosa". Nunca me senti menos vitoriosa. Meu marido e pai dos meus dois filhos tem uma amante. Minhas notas na faculdade estão péssimas e não há um dia sequer que eu não pense em desistir. Talvez não seja para mim. Tantas coisas que eu desejava não aconteceram. Tenho 36 anos, uma filha de 15 e um menino de 8. Pedi demissão do meu emprego. Não era o trabalho em si que me arrasava mas as duas horas e meia que ficava dentro de um ônibus. Fico pensando qual o sentido disso tudo. A vida está pesada e sem cor. Tudo é de uma repetição impressionante. Por isso não escrevi nada no meu diário. Seria uma sucessão de repetições. Acordar cedo. Colocar as crianças para escola. Fazer almoço, cuidar das roupas. Limpar a casa. Fazer o jantar. De noite, único momento em que temos toda a família reunida não poderia ficar mais só. Nem sequer conseguimos assistir televisão juntos. Meu filho joga, minha filha não saí do computador e meu marido do celular. Prefiro estar mesmo sozinha do que falsamente acompanhada. E sou invadida por uma imensa saudade. Não sou do tipo de pessoa que quer parecer ter menos idade do que tem. Da infância, lembro de algumas poucas coisas como meu lanche humilhante. ovo com beterraba. Comia escondida aquela comida rosa e nunca tinha dinheiro para entrar na fila da cantina. Sonhava entrar naquela fila e reclamar do salgado como as outras meninas. Na adolescência, pouco melhorou. Frequentava as reuniões da igreja e cantava. Lembro do meu casamento e sinto uma fisgada não sei se no peito ou na boca do estômago. Estava tudo preparado e foi cancelado. Ainda noiva fiz algumas coisas. Contei para minha prima, talvez ela tenha contado para minha mãe, chegou aos ouvidos do meu pai. Não tenho raiva dela. Ou melhor, tenho. Mas tenho mais raiva de mim. Todos estão dormindo agora. Gosto de ser a última a dormir e a primeira a acordar. Tenho a clara sensação que a casa precisa de mim para viver. Minha prima não casou e eu, já vou fazer 17 anos. Abro o diário. Em cada página um texto bíblico que me bloqueia os pensamentos. Acho que deveria me separar. Eu durmo no quarto com meu filho e ele no quarto da minha filha. Penso que já estamos separados mas vivendo na mesma casa. Só falamos um com outro o essencial. Já enfrentamos muita coisa juntos: desemprego, morte do pai dele, mudanças, decepções. Traições. Sei que também cometi meus erros. Ele não me deseja como mulher há muito tempo. Vivemos como irmãos. Penso em ter um cachorro. Talvez resolva esta solidão. Penso "solidão" e jé me sinto sufocada. Um pouco antes de sair do emprego comecei a ter isso: não aguentava ficar no ônibus. Faltava o ar. Pensava que iria morrer. Ou ficar maluca. Tomo remédios. Melhoro um tempo. Pioro de novo. Não consigo ver a saída. Estou assim há quase dois anos. Cansada. Infeliz. Preciso de uma vitória, penso olhando o diário fechado. Amanhã tudo começa cedo. A casa não respira sem mim. Me falta o ar. Tenho medo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Saramago. Sonha Mago.

Trecho do livro: Memorial do Convento. "Dormiu cada qual como pôde, com seus próprios e secretos sonhos, que os sonhos são como as pessoas, acaso parecidos, mas nunca iguais, tão pouco rigoroso seria dizer Vi um homem, como Sonhei com água a correr, não chega isso para sabermos que homem era e que água corria, a água que correi no sonho é água só do sonhador, não saberemos o que ela significa ao correr se não soubermos que sonhador é esse, e assim vamos do sonhador ao sonhado, do sonhado ao sonhador, perguntando, Um dia terão lástima de nós as gentes do futuro por sabermos tão pouco e tão mal..." - Página 121

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Já tomou seu remedinho hoje?

Um dos problemas de enfrentar qualquer desordem psiquiátrica ou precisar de auxílio medicamentoso é a falta de compreensão de amigos e familiares. Por vezes, isso é mais dolorido do que a patologia propriamente dita. As medicações evoluíram muito. Os efeitos colaterais são inevitáveis mas tecnologias cada vez mais ajudam a pesquisar as substâncias mais adequadas para ajudar aos pacientes a se recuperarem de episódios depressivos, fóbicos ou quadros ansiosos. O livro da CID - 10 propõe uma classificação de Transtornos Mentais e do Comportamento e conta com 283 páginas na Edição Brasileira de 1993 (Artes Médicas editora). É um trabalho árduo classificar e estudar as diversas formas do ser humano de enfrentar as dores que não podem ser verificadas por exames clínicos ou de imagem. O quanto dói? O que é uma dor suportável para cada um de nós...quanto nossa estrutura aguenta sem se partir? É um trabalho que envolve pesquisadores e clínicos em cerca de 110 institutos espalhados em 40 países. Médicose cientistas de várias partes do mundo. Para cada quadro uma profusão de alternativas para interferir no funcionamento químico do cérebro. Percebemos que o objetivo do remédio é "trazer de volta à média". Se temos um país de deprimidos e um mundo de ansiosos, o que passa a ser normal? Qual é a média de que tratamos aqui? Qual deve ser a medida do nosso século para a saúde e o bem estar mental? Talvez estejamos diante de uma ancestral necessidade de ordenar, classificar e detalhar seres humanos como Darwin com suas espécies. Quem sabe uma tentativa de buscar semelhanças e diferenças em determinados grupos. Definir estilos cognitivos, preferências de comportamento individual. E adaptar. Recuperar o sujeito. Torná-lo civilizado e útil. Adequado e funcional. Produtivo. Feliz. Equilibrado. Sim, estou exagerando. Isso para mostrar aos leitores o grau de impossibilidade que tratamos aqui. Cuidado para que não se torne vítima de uma massificação impositiva. Não admita ser tratado como louco só porque faz análise ou faz uso de eventual ou contínuo de uma medicação. Ninguém questiona se uma perna quebrada ou uma pneumonia precisa de tratamento. E, se este é o caso a pergunta-título ilustra bem uma forma de bullying. Ou, para usar um termo ainda mais em voga, psicofobia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A hora de tirar a camisa

Uma das expressões mais gastas do meio corporativo é: "Você tem que vestir a camisa!". E, durante nossa carreira saímos por aí vestindo as camisas que nos convidam a vestir. Nos envolvemos com as metas da empresa. Acreditamos com fé nos números projetados pela direção e seguimos, apaixonados, o caminho das vitórias. Afinal. é vestindo a camisa da empresa que ganhamos as melhores oportunidades, promoções, exploramos nossas aptidões e deixamos nossos talentos a disposição. Confundimos de verdade os objetivos deles com os nossos. Queremos ganhar mais dinheiro. Acreditamos piamente no crachá, no contracheque, no bônus, na meritocracia. E seguimos como um Édipo cego e errante. Camisa suada. Se alguma mudança estratégica muda a cor da camisa, mais que depressa mudamos nossa cor predileta. "Quem não muda, dança". Dançamos a dança das mudanças. Por vezes, a camisa fica apertada, rasga em alguns lugares...Não acreditamos mais nos ideais da empresa. Não concordamos com os meios para atingir os objetivos. Mas as contas vencem no final do mês. a escola das crianças é cara. a viagem que parcelamos em dez vezes ainda está debitando no cartão. E continuamos firmes. Até agora nada disse que meus caros leitores não estivessem fartos de saber. Mas voltemos ao título. Amo títulos. Estamos falando aqui do libertador movimento de tirar a camisa. De acreditar que a força do seu nome não é mais belo em um cartão de visitas bilíngue e a inscrição de "diretor" ou "superintendente" abaixo dele são o sentido de sua existência. Como sabem, tenho uma estranha obsessão por futebol. É o esporte brasileiro por excelência. Mesmo quem o despreza ou odeia não pode ignorá-lo. Não há como fugir de sua onipresença. Eis o que queria dizer: pessoas brigam seriamente em bares, ônibus e redes sociais pelos seus times. seus hinos. seus escudos. Confundem a glória dos jogadores com seu próprio suce$$o. Estranho? Não para os brasileiros. Nossa pátria de chuteiras. Mas peço que se lembrem da cerimônia que ocorre ao final de cada jogo. Não importa quanto humilhante ou surpreendente seja o placar. Jogadores suados, após da longa disputa de uma hora e meia. Trocam as camisas. Misturam seus suores. Falam bobagens aos repórteres afoitos à beira do campo. Choram de alegria ou decepção. Mas, sobretudo, lembram a todos nós que saber a hora de despir a camisa é tão importante quanto a de vesti-la. Não deixe que nenhuma camisa, por mais bonita que seja roube sua essência. Seu cheiro. Não vale a pena tirar a pele para se livrar da camisa. Para tudo há um tempo certo. Se for agora seu momento de tirar a camisa. Faça-o. Coragem. Você e seu coração podem mais.

Morreu velho e farto de dias

Ter uma filha adolescente representa um privilégio incrível. Vê-la se enmulherando, arrumada, de pijama no sofá. Meus olhos surpresos por vezes olham assustados como se fosse a primeira vez que a vejo em um misto de espanto e prazer. Adoro quando ela é obrigada a ler, pelo menos, um único e escasso livro por bimestre. Em que pese que na idade dela - aos quinze anos - lia um por semana e já contava 120 títulos devorados. Ademais é algo insano cobrar de nossos filhos uma continuidade de nossos atos. Eu sentava na primeira fila, usava óculos, não tinha vontade mas nem poderia parar na sala da diretora por problemas de comportamento. Minha mãe dava aula de inglês e em nove anos de educação no Instituto Metodista Bennett não tive a concessão de uma só advertência. Nenhuma. Não esquecia livros em casa nem deixava de cumprir os prazos de deveres e trabalhos. Não me orgulho nem um tantinho disso. Só eu sei quanto me custou. Até hoje me apavoram os prazos. Voltando a Bia. Ela abriu os primeiros livros sem figuras e sozinha nas mais de 50 páginas há pouco tempo. Leu "Onze minutos" do Paulo Coelho duas vezes. Depois, veio "Comer, rezar e amar" "A menina que roubava livros" (desconfio que este ela não terminou) e "O menino do pijama listrado". Mal consegui respirar quando no ano passado ela foi escolhida entre todos os alunos do Ensino Fundamental como a "Aluna de Ouro" da escola que estuda há dois anos. Finalmente, Beatriz Duarte florescia para as letras. Faculdade cursada pelo seu pai e pela avó Hélida. Amor da vida da sua mãe. Arte, dança, música ela sempre amou. A primeira medalha de ouro foi no Clube Militar da Tijuca com 10 aninhos - Ginastica de Solo pelo Clube Monte Sinai. Mas não era nada isso que queria dizer. O assunto era meu amado Jorge. Autor do clássico "Capitães da Areia" que vibrei ao ler nos meus treze anos ou de "Gabriela Cravo e Canela" que amei aos 35. Outro dia, por motivo de teste, eu e ela tivemos uma deliciosa insônia literária. "A morte e a morte de Quincas Berro d'Água". O livro contava com interessantes gravuras em preto e branco e uma história deliciosa e de fácil leitura mas profunda absorção. Assim, Quincas me perseguiu durante semanas. No metrô, tomando banho, antes de dormir. Sinto que todo homem bem casado tem seu lado Quincas. Um vago ressentimento da imagem da perfeição que Joaquim causa sobre esposa, filhos e netos. A vida vai chegando ao fim. Ou, pelo menos, para lá do meio. Hora de dar um berro. Independência ou morte? Um grito a favor da própria individualidade. Mesmo que seja considerado moralmente morto, Quincas me parece estar mais vivo que nunca em seus últimos dias na Terra. A expressão que dá título a este post é bíblica. Sempre achei meio patético morrer velho e farto de dias. Teoricamente, uma bênção. Na prática, um estorvo. Na controversa poesia da Sociedade Alternativa temos que todo homem deve ter o direito de viver como quiser e de morrer da maneira que Ele quiser. Jorge Amado cumpre a risca este manifesto com seu simpático personagem. Nasceu Joaquim mas morreu Quincas. Que assim seja!

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Megalomania

Com certeza você já ouviu esta palavra antes. No texto desta semana, vamos refletir sobre o que significa, o que há de positivo e o não muito razoável neste sintoma. Chamo de sintoma e já me corrijo mentalmente: os sintomas lembra m algo como: Sinto Mal. Dói. Mas este é, por assim dizer, um sintoma ao inverso: aparece quando o paciente sente-se bem demais. A ponto de Não ver nele mal nenhum. A cultura também não ajuda. Na verdade, seja a tradição Judaico-cristã, principalmente a reformada. Seja a América do Norte ou do Sul. Disney com suas historias fascinantes enche adultos e crianças de sonhos. A megalomania é acreditar tanto nos sonhos que deixamos de colocar os pés no lugar deles: no chão. Quando o dono do Unibanco e filho do Walther Moreira Salles - Pedro Moreira Salles, na ocasião presidente do Conselho, construiu os dez mandamentos que norteariam a nova cultura corporativa. "Cabeça nas nuvens e pés no chão". Era necessário mudar a impressão que o banco dava aos clientes de caro e elitista. Entraram em cena criaturinhas fofas nos anúncios e agências: os Unimons. Mas esse tipo de sonho grande, de cabeça de banqueiro, também ocorre com pessoas de todos os níveis socioeconômicos. Qual é o tamanho dos seus sonhos? todos nós, humanos, nutrimos em nossa mente ideias. Pensamos no parceiro ideal ou em fama, riquezas ou poder. A megalo(grandeza) mania fala disso. Ensaios no espelho para discurso de presidente da república com apenas 16 anos. Meu pai é uma "flor de obsessão" como o era meu amado Nelson Rodrigues. Ele repete umas 500 vezes as suas frases e ideias prediletas. Há quem diga que uma frase dita uma única vez, morre inédita. Pois bem - eis o que queria dizer: "Pense grande, comece pequeno e evolua rápido". Adoro esta frase paternal. Pensar pequeno pode ser ilustrado como aquele pescador que guardava os peixes menores e desprezava os grandes porque sua frigideira era pequena no seu fogareiro de duas bocas. Começar grande é como construir castelos no ar. Sem os pés no chão, com a cabeça sempre nas nuvens o que acontece são inúmeros tropeços. Caímos de joelhos. "If you fall in love, you can hurt your kennes". Isso quando não destrói o coração. A conta bancária. O nome e a credibilidade. A natureza não dá saltos. Só acredito em sucesso construído com muito suor, inteligência e trabalho duro. Sonhe. Realize. Acredite. Mas dê um passo de cada vez.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Caso ad.02.02 - Bruna sonha de novo

Entra meio correndo no consultório e nem sequer pergunto como ela está hoje. Tenho um sonho para te contar. Como você sabe tenho acordado no meio da noite. assim do nada. sem explicação. Acho isso meio sinistro. Outro dia meu irmão acordou para trabalhar e eu estava na sala "vendo TV". Ele me deu bom dia mal humorado e perguntou o que eu estava vendo. Eu respondi: Nada. Estranho, né? Outro dia vi um filme sobre exorcismo fiquei com aquilo na cabeça. O padre dizia que três horas da manhã é a hora do diabo. Isso porque as três da tarde Cristo morreu. Era tipo a hora dos milagres. E 12 horas depois, teríamos o contrário dos milagres. Sei lá. Acho que nem acredito nestas coisas. Acho que foram criadas para assustar as pessoas. Mas não gosto de acordar as 3 da manhã. Ontem minhas amigas me chamaram para ir no ensaio de uma escola de samba. eu pensei em ir. Acho que apesar de não conseguir sambar poderia ter sido legal. Engraçado isso: quando me convidam para alguma coisa e eu falto seja por preguiça ou medo de ser chato. No dia seguinte acordo com uma sensação terrível de que deveria ter ido. Que estou me tornando assim como "o homem da bolha". Mas ao mesmo tempo, dá um alívio de ter ficado em casa. Meio sinistro isso. É como se minhas escolhas não tivessem uma resposta certa. São ideias opostas, dra!!! Mas vamos ao meu sonho. Achei meio infantil, meio apavorante. Meio louco. Veja o que você acha: estávamos na praia. naquela mesma que costumo ir de dia. mas estava calor e fomos de noite. todos com a maior naturalidade, conversando. Sentamos em como se fosse uma roda na areia mesmo. Quando olho para o calçadão, tinha um urso!!! Sério. Um urso marrom. Parecia aqueles ursos polares, mas era marrom. ele era super sociável e popular. Veja que ninguém estranhava a presença dele. O fato haver um urso ali. em plena praia. conversando e rindo. Depois, eu e minha irmã mais velha saímos da praia e fomos andando. acho que para o ponto de ônibus. mas o urso continuava na minha cabeça. pasma que ninguém se desse conta do risco que ele representava. Percebemos que ele nos seguia...essa foi a parte agoniante. entramos correndo em uma casa de dois andares. minhas pernas doíam mas eu continuava a correr o mais rápido que eu podia. Sentia meu coração disparado, saindo pela boca. E tentava proteger minha irmã que parecia mais lesada do que eu neste caso. Quando chegamos ao segundo andar, era como um laboratório - tudo branquinho com vidros mas nem deu para reparar muito no lugar. o urso entrou logo atrás. peguei uma seringa e tentei espetar o urso mas ele já estava correndo na direção da minha irmã. Quando desci as escadas havia vários carros de polícia cercando o prédio. Luzes vermelhas no meu olho que começou a querer lacrimejar. Não dava tempo de chorar. Lembrei da minha irmã lá encima, sozinha com o urso e paniquei. Deu um calafrio no corpo todo e acordei suando. As três da manhã. Em ponto.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pequena parte da minha cabeça

Arrumando meu guarda-roupa (o que se trata de literalmente uma missão impossível) achei umas folhinhas de caderno com este título e um balãozinho abaixo: "Você não queria me entender?" Ainda quero, minha Beatriz...não sei que idade tinha, não colocou a data desobedecendo Voltaire. Mas assinou todas as frases...mesmo as que pegou emprestado. Lá vai: "Me rebaixar, não te fará crescer!" "Se a culpa é minha, eu coloco ela em quem eu quiser". "Se você não gostar de você mesma, acredite, ninguém gostará!" "Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos haverá guerra". "Faça! Se de errado foi uma experiência, se der certo, foi uma vitória!" "Não se preocupe com as pessoas más e cruéis, o que é ruim se destrói sozinho!" "A verdade dói quando é dita, a mentira a cada vez que é lembrada." "É possível ser feliz sem o dinheiro, mas é mais fácil com ele." "Cair é inevitável, continuar no chão é opcional." "Errar uma vez é humano, se errar de novo, pelo mesmo motivo, é uma escolha." "Se os seus esforços não forem reconhecidos, não fique triste, pois o sol dá um dos seus maiores espetáculos, ao nascer, a platéia quase toda está dormindo." "Você sempre vai achar alguém melhor que você, então, pare de se comparar". E, finaliza com a 13a frase: "Às vezes, a única coisa que falta é o verdadeiro amor." Beatriz Duarte

As palavras e as coisas

Meu assunto esta semana é o arrependimento. Sempre achei uma palavra linda mesmo antes de saber o que significava. Não sei você, querido leitor, mas eu tenho algumas palavras tão queridas que são como parentes comparáveis ao tio Evandro que eu quase nunca vejo ou ouço, mas quando aparece na cabeça ou pessoalmente me fazem sorrir. Em toda língua que procurei aprender tenho minhas predileções. São preferências sonoras e nada ou pouco tem a ver com qual significado daquele significante. O título mesmo deste post peguei carinhosamente emprestado de Michel Foucault - belo nome. Quelquefois é uma das francesas. Dá vontade de comer quelquefois de tão gostosa de falar. No meu caso vontade de comer é sempre e esta fofura significa "às vezes". Estou particularmente intrigada com estas palavras há umas três semanas. São elas: Arrependimento, culpa, perdão e indulgência. Vamos por partes. Não me conformo quando alguém fala esta frase acompanhada da gasta piada: "como Jack". Vejam vocês que este assassino esquartejador roubou-nos a pureza de uma expressão tão útil como esta. Imperdoável. Rien, rien de rien... Je ne regrette de rien. Canta Edith Piaf com aquela voz metalizada e exótica que "Não se arrependia de nada". Com a história de vida dela, bem contada no filme tenho certeza que o livro da sua vida deveria ter umas páginas coladas. Prefiro a honestidade cantada por Sinatra e Elvis e, por último (e mais importante para mim) pela cantora lírica Gélcia Improta - minha amiga. Regrets, I've had a few but then again, too few to mention". Ou seja, mais ou menos do meu jeito. tenho muito mais a agradecer que a pedir. Assim que inaugurei este blog em 2009 publiquei como primeiro texto "Influências e Agradecimentos". Isso mesmo começo pelo final. Como se as cortinas do espetáculo da vida pudessem se fechar a qualquer momento. E esta transitoriedade de tudo por aqui, inclusive e principalmente de nós mesmos. Vamos passar. Mas já escrevi bastante e não fui direto ao assunto, conforme meu costume. Hoje, ao pôr do sol, começa o Yom Kipur - o dia do perdão. Uma tradição judaica especialmente querida para mim. Não sou judia, nem budista, nem católica. Mas pego carona no que há de mais interessante para mim nestas e junto com minha origem presbiteriana, fazendo minha própria religião. Desculpe se esta afirmação escandalizar algum leitor mas o Deus é meu, individual e intransferível como meu cartão de banco. E as religiões estão todas aí para isso mesmo: religar as pessoas com Deus, sua espiritualidade e alma. Se de um lado os homens transformam o nome de Jeus ou Deus ou a trindade inteira por tiranos de culpa e massacre de almas. Por outro lado, aprendemos que o remédio para os males da culpa e do arrependimento tem como antídoto o perdão e a indulgência. O perdão dá ao ofendido uma certa posição de poder de Juiz. Pode te perdoar ou não. Mas, pelo simples ato de pedi-lo, já fez sua parte. Já a tão mal-falada indulgência que eram vendidas na época da reforma protestante do século XVI, como estudamos na escola, na igreja ou no Google. Palavra linda: indulgência. Parece com a sonoridade de inteligência, combina com excelência. E, em português de rua, é deixar barato. Entender que o outro não fez por mal. Tirar a culpa - desculpar. Libertar-se e, principalmente crescer em autoconhecimento e conhecimento da alma do outro. Desconfio seriamente que estamos neste mundo para isso.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Eu te amo se...

Todo pai e mãe apresenta ao filho um caminho. Em primeiro lugar, o caminho do certo e errado. O conceito de Narcisismo na Psicanálise mais uma vez se aproveita de uma lenda. Narciso era um semideus belíssimo, cortejado pelas belas ninfas. Fascinante em sua graça e beleza. Um dia, passeando pela mata se curva à beira de um rio e contempla sua própria imagem. Fica tão deslumbrado com o que vê em seu reflexo que termina, de forma trágica, se lançando no rio em busca de um encontro impossível de amor por si mesmo. Temos, na teoria, dois tipos de narcisismo. O primário é o amor incondicional que o pequeno bebê recebe. Os pais amam os filhos sem condições nesta fase. Podem babar, chorar, vomitar. Tudo é lindo. Acordam de madrugada, não negam o amor e as boas coisas, diria as melhores. Sequer dormem quando o percebem doente. Pouco tempo dura o narcisismo primário. Em torno dos 18 a 24 meses as exigências começam. É claro que o amor não esmaece mas começa a ser cravejado de condições. Os pais começam a falar os famosos "Nãos". Seja para a proteção do bebê que já anda pela casa mexendo em objetos, caindo quando tenta correr. Mas o caminho do crescimento é impositivo. O bebê precisa desprezar o colo para crescer. Experimentar novos alimentos. Vibrar ao conhecer a música, dançar e chorar diante das broncas. É ser humano. Vai ser bípede. Vai se civilizar. Vai aprender a falar e ouvir. E, principalmente, será amado por fazer o que os outros querem. Vai ganhar "Parabéns" por ter ido ao peniquinho e olhares de reprovação quando diante da poça se dar conta que errou de novo. É o início do narcisismo secundário que o acompanhará pelo resto da vida. Somos amados pelo que fazemos, falamos e conquistamos assim o respeito dos outros. O caminho é longo mas não inglório. assim avançamos. Estudamos. Melhoramos. Só assim nos desenvolvemos como povo humano. A neurose se locupleta e se perde em exagerar na dependência deste amor. Lutam alguns pelo amor dos outros ou pelo respeito. E, assim, percorremos ressabiados, nosso longo caminho.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Selfish or Sell Fish?

Em um momento de grande inspiração com o amigo Marcelo Nova assim disse Raul: "O meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar". Na maioria das vezes, consideramos as pessoas egoístas por pensarem demasiado em si mesmo ou nos próprios interesses. Ledo engano. Todo o "ego", "eu" ou "self" conforme o autor consultado é uma espécie de ilusão. Uma das frases mais conhecidas do Gran Mestre Freud é: "O ego não é dono de sua própria casa". A psicanálise o reposicionou como o fez Copérnico retirando a Terra do centro do Universo. Ou Darwin colocando o ser humano na escala evolutiva. Sendo assim, o rei Ego foi devidamente destronado. Ele não comanda. O que nos dirige é o que não sabemos sobre nós mesmos. O antidoto desta equação é o autoconhecimento. Quanto mais me conheço, mais me torno compreensiva com o "modus operandi" alheio. Maior consciência de atos e palavras. e o mais fascinante: este caminho tende ao infinito. Podemos conhecer e prosseguir em conhecer ad eternum, para sempre...4EVER! Cada caminho de conhecimento se depara com um imponderável sem fim de possibilidades e descobertas. O título deste post é uma brincadeira com duas possibilidae: o que o leitor prefere? Selfish é a palavra inglesa para o Egoísmo. curiosamente, sem nenhuma relação etmológica, se separamos teremos Sell (Verbo-Vender) e Fish (Substantivo-Peixe). Existe uma curiosa expressão brasileira que diz: "Venda seu peixe". Alguns consultores famosos apregoam que, a primeira competência a ser desenvolvida é a de vendas ou comercial. Temos que ao longo de nossa carreira, seja ela de qual natureza for, vender. Vendemos nosso perfil para o mercado, nossas ideias, conhecimentos, tempo, energia ou serviços. Particularmente, vibro quando meus jovens pacientes surpresos com a própria falta de preparo, afirmam: "Vou vender, trabalhar em uma loja, sei lá". Sei lá é melhor do que não sei. Meu primeiro trabalho, ainda estudante foi vender. Vendi brigadeiro, bijuterias, folheados etc. Abri minha primeira empresa em 1980. Chamava-se SALIPA - Samuel e Liliane papelaria. Meu irmão como sócio. Meu pai e minha mãe como únicos e fiéis clientes. Carteira assinada mesmo foi só em 96. Em pé. 6,8,12 horas. Dobrando roupa no estoque. Shopping vazio ou cheio. Jovens, senhoras e crianças acompanhando às mães e avós. Caroço é quando o cliente olha e não compra nada. Se tocar em alguma roupinha, você perde a vez. Se for muito simpática pode ser que lembrem de você. Não é fácil vender peixe que dirá roupa. e a chefe. Minha primeira chefe se chamava Neize. Linda, chique, sempre com as caras roupas novas da coleção. Maquiada e linda me dizia: "Lili, Lili...acho que você até tem futuro mas tem muito o que aprender..." Sábias palavras. Boa chefe.

Caso ad.03.02

Estou de novo na sala de espera. A mesma. Passou-se quinze dias desde a última vez. É pouco tempo. Geralmente. Para mim foram duas semanas péssimas. Em 20 minutos tudo pode mudar -diz a propaganda da rádio no cinema. Acho que Band News. Vi no cinema outro dia. Nunca foi tão verdadeiro. A impressão que eu tenho é que mudo de dez em dez minutos. Sou considerada tímida, quieta. Isso para quem não me conhece. Minha mente não cala a boca. Estou sem medicação. "Ainda" - disse o médico. Ele tinha olhos claros. Adoro olhos claros, os meus são castanhos. Outro dia ouvi que Deus só dá olhos claros a quem precisa. Não concordo. Como ia pensando os remédios não aconteceram. Adorei o psiquiatra. A consulta foi rápida.Ele também não passou os exames que eu havia sonhado. Mas...me recomendou conversar com uma psicóloga. Olhei minha mãe com uma cara de "Eu não te disse?" mas depois mudei a cara rápido. Ela parece cada vez mais tensa. Credo. Quando era menor, pensei em ser psicóloga. Mas quero ganhar dinheiro. Muito dinheiro. E penso que nessa profissão deve ser um pouco difícil ou, pelo menos, demorado. Saiu uma psicóloga da outra sala mas chamou um homem aqui do meu lado. Bonita. Tomara que a minha seja simpática também. O nome dela é Liliane. Disseram que não é nova. Nem velha. E que é especialista em carreira. Olho para minha mãe com o canto do olho. Ela está no celular. Adora ver o celular. Põe a culpa no trabalho mas acho que é porque ela gosta mesmo. Penso se ela vai querer entrar comigo logo nesta primeira consulta. Tomara que não. Ela quer falar por mim como se eu tivesse seis anos. Irritante. Toda vez que vamos ao médico, ela quer dar todos as informações irrelevantes sobre mim. Conta do parto, da gravidez, da ausência do meu pai. E, eu, verde de vergonha me pergunto: "Por que um dermatologista precisa saber disso? Ele só tem que exterminar cravos e espinhas!" Liliane saiu da sala e chamou nós duas, como eu temia. Aliás, como eu suspeitava. (Continua...)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Porque não escrevo sobre o meu pai.

Nasci em 1975. Era uma família simples. Uma professora de crianças e um pastor. Estava dentro da barriga da minha mãe em 1974 na quieta e calorenta cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Nossa casa era bem humilde. Exatamente em fevereiro conheceria este planeta, depois de algumas aventuras intrauterinas que contarei aos leitores em outra oportunidade. O resultado foi que o feto capixaba virou um bebê carioca. Eu não dei minha opinião. Por motivos óbvios. Certa vez afirmei que o papel dos pais terrenos se confunde com o do Pai Celestial. Falava sério. E não mudei de opinião ainda. Chegamos ao Rio com a mala cheia de expectativas. Viviane, minha irmã mais velha, já era bem mais experiente que eu. Tinha passado algum tempo nos Estados Unidos, onde papai estudou mais teologia e ela aprendeu inglês. Minha mãe professora na América tomou conta de uma bebê japonesinha mais nova que Vivi. Foi baby sitter. Babá em bom português. Gosto muito de falar dos começos. Diz o rei Salomão que é melhor o fim das coisas que seu começo. Particularmente, sempre achei que a frase estava invertida. Mas o homem que pediu sabedoria acima de tudo que poderia pedir, estava certo. Papai e mamãe estão vivendo hoje, em 2015, a última fase do ciclo da vida familiar. Desculpem a teoria no meio da poesia, mas são eles. Cinco ciclos no total. Morar sozinho. Casamento. Filhos pequenos. Filhos adolescentes. Lançando os filhos e seguindo em frente. O último, a sexta etapa recebe nomes diversos. Alguns chamam de Aposentadoria e Morte. Outros de Ninho Vazio. Não concordo com nenhum dos dois. O ninho nunca fica vazio se os dois pássaros iniciais são receptivos. Se a casa dos pais te boa comida e bom amor. Quanto a aposentadoria, se for fruto de um trabalho honesto e diligente, sobra amor. Em casa, sempre tivemos muitos livros e muito amor. Torcida, orientação e ajuda. Paixão é a palavra mais correta para os filhos dos filhos. O final das coisas pode ser, sim, melhor que o seu começo, caro Salomão. No final, descobrimos quem é quem. Os amigos verdadeiros e os que nunca o foram. Colhemos os méritos de nossas atitudes. Meu pai não apenas colhe, ele é mérito. Pastor Émerito. Mas continua trabalhando. Pastor aposentado é pastor morto. Deve ser por isso que o fofo Rev. Isaias Maciel será sempre incansável. Noventa, cem, cento e dez anos e tomara que Deus esqueça deles por aqui um pouco mais. Desculpe a gafe. Não escrevo sobre o meu pai. Ele é uma figura pública. Fala e escreve por ele mesmo. Eu espero, torço e amo. E já está bom demais.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Charles Chaplin

"Desculpem-me, mas eu não quero ser um Imperador, esse não é o meu objectivo. Eu não pretendo governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar a todos, se possível, judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós queremos ajudar-nos uns aos outros, os seres humanos são assim. Todos nós queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria alheia. Não queremos odiar e desprezar o outro. Neste mundo há espaço para todos e a terra é rica e pode prover para todos. O nosso modo de vida pode ser livre e belo. Mas nós estamos perdidos no caminho. A ganância envenenou a alma dos homens, e barricou o mundo com ódio; ela colocou-nos no caminho da miséria e do derramamento de sangue. Nós desenvolvemos a velocidade, mas sentimo-nos enclausurados: As máquinas que produzem abundância têm-nos deixado na penúria. O aumento dos nossos conhecimentos tornou-nos cépticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco: Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. O avião e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas invenções clama pela bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Mesmo agora a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Para aqueles que me podem ouvir eu digo: "Não se desesperem". A desgraça que está agora sobre nós não é senão a passagem da ganância, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano: o ódio dos homens passará e os ditadores morrem e o poder que tiraram ao povo, irá retornar ao povo e enquanto os homens morrem [agora] a liberdade nunca perecerá… Soldados: não se entreguem aos brutos, homens que vos desprezam e vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, vos dizem o que fazer, o que pensar e o que sentir, que vos corroem, digerem, tratam como gado, como carne para canhão. Não se entreguem a esses homens artificiais, homens-máquina, com mentes e corações mecanizados. Vocês não são máquinas. Vocês não são gado. Vocês são Homens. Vocês têm o amor da humanidade nos vossos corações. Vocês não odeiam, apenas odeia quem não é amado. Apenas os não amados e não naturais. Soldados: não lutem pela escravidão, lutem pela liberdade. No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito: "O reino de Deus está dentro do homem" Não um homem, nem um grupo de homens, mas em todos os homens; em você, o povo. Vós, o povo tem o poder, o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Vós, o povo tem o poder de tornar a vida livre e bela, para fazer desta vida uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos unir-nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que vai dar aos homens a oportunidade de trabalhar, que lhe dará o futuro, longevidade e segurança. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder, mas eles mentem. Eles não cumprem as suas promessas, eles nunca o farão. Os ditadores libertam-se, porém escravizam o povo. Agora vamos lutar para cumprir essa promessa. Lutemos agora para libertar o mundo, para acabar com as barreiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão, um mundo onde a ciência e o progresso conduzam à felicidade de todos os homens. Soldados! Em nome da democracia, vamos todos unir-nos! Olha para cima! Olha para cima! As nuvens estão a dissipar-se, o sol está a romper. Estamos a sair das trevas para a luz. Estamos a entrar num novo mundo. Um novo tipo de mundo onde os homens vão subir acima do seu ódio e da sua brutalidade. A alma do homem ganhou asas e, finalmente, ele está a começar a voar. Ele está a voar para o arco-íris, para a luz da esperança, para o futuro, esse futuro glorioso que te pertence, que me pertence, que pertence a todos nós. Olha para cima! Olha para cima!" (Tradução, Fernando Barroso)

Lágrimas por trás do sorriso

Nasci em Londres. Parece glamouroso para quem ouve mas como em toda grande cidade, quem vai apenas nos pontos turísticos pouco ou nada sabe do que significa viver lá. Minha mãe se chama Hannah nome que está na bíblia. Soube depois que era nada menos do que a avó do que os cristãos acreditam ser o Messias. Moramos eu, minha mãe e meu irmão mais velho. Ele se chama Sidney. Nossa casa fica perto de Lamberth. Minha mãe foi abençoada ou amaldiçoada por dois dons: cantar e amar. Amou o pai do meu irmão e depois meu pai. Não é fácil acertar no casamento. É o que penso. Hoje tenho oitenta e sete anos e entendo perfeitamente minha mãe. Tarde demais. Ela era bastante brava, estourada, impaciente mas também intensa, emotiva e forte quando precisava. Um problema na laringe tirou sua profissão de cantora e os amores frustrados e lutas terminaram por agravar o que os médicos chamaram de uma depressão nervosa quando a internaram. Nada que eu já não soubesse intuitivamente como filho. Comia pouco, reclamava muito. Chorava sempre. Quando isso aconteceu, eu e Sidney tivemos que morar um tempo em um asilo para crianças. Foi um período duro mas nós sobrevivemos. Tentamos também morar com meu pai e sua nova mulher. Mas isso foi mais difícil ainda. Ele tinha problemas sérios com o álcool. Quando eu tinha 12 anos meu pai morreu. Provavelmente de doenças ligadas a seus péssimos hábitos. Ganhei o nome do meu pai. Mas felizmente acho que somente o nome. Meu pai morreu jovem e foi enterrado, sem nome em lápide, em uma cova comum. Demorei muito para me casar. Só o fiz quando me senti realmente apaixonado. Ela se chamava Mildred e tinha apenas 16 anos. Nossa união durou apenas dois anos de felicidade. Quando tinha trinta anos, recebi a notícia de que seria pai pela primeira vez. Demos a menina o nome de Norma mas ela nasceu no dia 07/07 com problemas graves de saúde. Eu sofri. Mildred sofreu muito mais. E, em apenas três dias, no dia 10/07, perdemos a pequena Norma. Depois disso, ainda permanecemos juntos por mais dois anos. de mais sofrimento em comum do que propriamente amor. Sabia que a vida seguiria em frente. Ele sempre segue.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Não sei onde estou indo, mas sei que estou no meu caminho...


Holy Days

Preciso avisar aos meus escassos leitores que estou em férias de 14/08 a 24/08/15. O descanso é algo que faz parte do nosso sucesso como seres humanos. O ócio para alguns interpretado como tédio revelam as dádivas provenientes de não fazer nada. Só existir e usufruir da nossa gentilidade. Sentar embaixo de uma árvore, sentir a respiração. Observar cerimoniosamente os elementos da natureza que diariamente desprezamos. O final de semana, os feriados e, principalmente as férias nos convidam a cruzar os braços e pernas e promover uma pausa entre as canções. Holliday significa dia santo se separarmos as palavras. O trocadilho se aplica desde a narrativa bíblica do Gênesis. Deus mesmo teria tirado umas férias para descansar da genial tarefa de criação do planeta Terra. Para além do cansaço físico e mental que necessita ser aliviado. Preserve sempre o sagrado direito ao seu dia santo. è um direito de todo trabalhador e um conselho sábio para a sanidade. Tenho um amigo querido que usa o relógio na mão direita como eu mas dispensa o artefato no final de semana. Executivo de sucesso e pai de um lindo casal de filhos corre atrás dos minutos e horas. Não almoça nem toma café sem segundas intenções - orientar um colaborador ou fechar um bom negócio. Aproveita todos os momentos para consultar os relógios do celular, do computador e do pulso. tictactictactictac....tempo é dinheiro. Dinheiro não é tudo. Sabemos disso mas não colocamos em prática. Seria nosso maior bem. O ativo mais precioso de um ser humano. Tenho viva na lembrança um professor de matemática financeira. Explicava de forma primorosa o valor do dinheiro no tempo. Gostava de instigar os alunos perguntando: "Vocês querem um milhão de dólares hoje ou daqui há um mês?" Nossos olhinhos ambiciosos brilhavam ante a quantia sonhada. Quem não quer ser um milionário? Só aqueles que desejam ser bilionários..."Hoje! Hoje! - exclamávamos internamente. Boa resposta. Mas não tão boa considerando a valorização de 12,35% e a inflação de 10% em reais no período. Quem queria o dinheiro hoje perderia uma bela oportunidade. Quanto a mim, acho que nem faria o câmbio automaticamente de toda a quantia. Provavelmente na semana ou no mês seguinte ainda fosse a feliz proprietária de novecentos mil dólares valorizados. Mas, contas a parte, talvez a equação mais difícil e mais complicada conheci no Ibmec São Paulo com o mestre Eduardo Giannetti. Como distribuir recursos escassos de tempo e dinheiro de forma mais inteligente. As escolhas de ir à pé, fazer exercícios, comer doces, dormir mais ou menos...ir para o trabalho à pé ou de ônibus. Casar ou comprar uma bicicleta. Fazer os dois. O tempo todo fazemos escolhas e contas com o nosso tempo. Na hipótese anterior se para ter o direto ao bendito prêmio de um milhão de dólares você precisasse ficar confinado em um quarto por dez anos ou perdesse uma perna, você faria o acordo?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Família

Quando era estudante de Psicologia na UFRJ em 1994 conheci, na Faculdade de Cinema, um tipo de Psicanálise que mudaria minha maneira de ler Freud e, ainda mais importante, eu mesma. O mestre havia feito análise com Jacques Lacan, um psicanalista pra lá de famoso, que propôs uma releitura, um retorno a Freud atualizando de forma complexa os conceitos temperados com linguística e matemática. MD Magno era o nome do professor, sempre vestindo preto. Muitas vezes com um colarinho clerical. Cabelos brancos, tênis nos pés. Dentre tudo que era dito o que fez meus olhos brilharem mais intensamente foram os impérios: cinco impérios ao todo - do Pai, do Filho, Do Espírito Santo e, finalmente, do Amém. Para uma presbiteriana de nascimento eram termos conhecidos. Estes mesmos impérios se refletem também na história da família e da humanidade. Como a Macroeconomia obedece às mesmas leis da microeconomia, aprenderia mais tarde. A família pode estar gozando de uma certa desordem mas ontem meus quase oitocentos amigos do Facebook estavam obedecendo ao antigo mandamento de honrar o Pai e a Mãe. Desde homenagens pos mortem. Claro reconhecimento do lugar do pai e da figura paterna - seja este um exemplo ou como Nelson Rodrigues chamaria, um pulha. Pais violentos, descontrolados, viciados, incestuosos, irresponsáveis são alvo de uma espécie de perdão coletivo - da compaixão no entendimento de que o Pai Herói pode ser também um bandido. A omissão do dever paterno, também foi sobremodo abordado. Pais que deixam cair toda a responsabilidade de proteger e criar os filhos sobre as mulheres são crucificados pela massa digital. A lógica que rege os compartilhamentos revela um fenômeno muito humano e antigo: tomar partido. Não estou me referindo a política. Longe de mim. Não escrevo sobre o que desconheço. Falo da adesão das ideias sobre as pessoas e o movimento quase fluvial das multidões fenômeno que já fora bem catalogado pela Antropologia e Sociologia nos eventos reais como estádios de futebol ou shows de rock. Voltemos a família. A dita "célula mater" da sociedade estaria realmente enferma ou moribunda? Ameaçada pelos entusiastas de uma dissolução desta? Ou mesmo os casamentos entre pessoas do mesmo gênero ou da adoção responsável estariam procurando reproduzir o modelo familiar nosso velho conhecido? Tenho mais perguntas que respostas. Ainda bem.

Hugo Wilson Bernabé

O artista plástico de apenas 21 anos apresenta sua 1a Vernissage nos dias dezenove e vinte de setembro na ACM Lapa/RJ com obras exclusivas que revelam a conexão e importância da fé em sua vida e arte. Texto feito sobre o artista para o Instituto Reverendo Guilhermino Cunha - patrocinador do evento. "Começou a pintar com apenas 12 anos e, dispondo de poucos recursos, teve a ideia de utilizar uma das bebidas mais populares de nosso Brasil como tinta. Apenas com café solúvel e tinta preta produzia cada vez mais obras apenas com o talento nato e o apoio da família e amigos. As telas eram produzidas sobre algodão cru e o chassis construído pelo próprio artista. Pinceis rústicos e muita emoção é a matéria prima de uma arte de urgência. Hugo Wilson - como prefere ser chamado é dotado de uma sensibilidade e riqueza de expressão ainda não moldado por técnicas. Admira e estuda sua arte vivendo, experimentando, observando as exposições e de uma maneira simples e honesta se comunica com seus traços firmes que revelam seu fascínio e apreensão diante da vida".

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Caso ad.03

De repente, estou na sala de espera de uma clínica psiquiátrica. Não é exatamente isso mas tem psiquiatras aqui. Minha mãe quer que eu converse com um deles. Isso acontecu porque travei na semana passada. Estava indo para o ponto de ônibus porque chovia muito. Quando está um dia claro, vou à pé mesmo. Mas não estou gostando muito da nova escola. Nada desesperador. Ou melhor, mesmo que não concorde com isso - o desespero veio. Tentei convencê-la que psiquiatra era coisa para gente doida, maluca mesmo e que eu não me sentia doida. Me sentia doída. Percebem a diferença que um acento faz. Às vezes, as pessoas mais velhas ou adultos em geral dizem que estou na fase mais linda da vida, que aproveite e blá, blah blah...Só pode ser brincadeira. Tenho fotos de quando eu era bebê espalhadas pela minha casa. Aquilo era ser linda. Como alguém pode achar lindo espinhas pelo rosto, um peito que não cresce de jeito nenhum, um cabelo que deveria ficar lindo com o que gasto com ele (mas não fica) e um par de pernas finas...meu deus do céu! Mas acho que compreendo um pouco o que eles dizem. Daqui pra frente vai piorar muito.Quando falo ou penso isso me sinto meio depressiva. Tenho que me lembrar de não usar este termo com o médico. Não sei quando começou. Acho que o médico deve perguntar isso. Ou vai me pedir para radiografar ou fazer uma tomografia do cérebro. Isso pode ser interessante. Penso nos filmes onde aparecem estas máquinas que parecem túneis brancos e sorrio. Minha mãe repara no meu sorriso e pergunta de novo se estou nervosa. Eu não - digo, pensando que ela deve estar mais nervosa que eu. Sei bem que a vida dela não tem sido fácil. Volta do trabalho todo dia reclamando, do transito, da chefe, de ter chegado tarde, dos outros vendedores. Mas penso que ficou pior agora. Depois que ela descobriu que tem um problema. Não sei direito qual é mas deve ser um dos grandes. Fico imaginando mil coisas. Antes ela tivesse me contado. E se ela morrer e me deixar sozinha. Me acho um monstro mas, às vezes, fico imaginando isso. Eu morreria de medo mas acho que me sairia bem. Pularia ou dois próximos anos do ensino médio. Moraria com a minha vó. Minha irmã mais nova é filha do meu padrasto. Ela ficaria com ele. E eu seria expulsa por não fazer mais parte da família. Azar o meu. Ou sorte a minha. Mordo os lábios para não rir de novo. Me dá vontade de chorar de pena de mim. Poderia morrer eu. Olho para a mão da minha mãe. Meu nome é chamado alto como para me salvar destes pensamentos. Seguro a mão gelada e entro na sala do médico. (continua...)

Não leia este post

Nosso querido cérebro não consegue entender a palavra NÃO. Não pensem que estou falando de toda aquela complexa reflexão sobre a transgressão ou a traição. Também não estou falando das mulheres que só dizem sim ou dos pais que não conseguem dar limites aos filhos. Meu objetivo aqui é, por assim dizer, mais rastaquera: o NÃO é tão usado quanto inútil. Não acredita? Faça você mesmo o teste: quando acabar de ler este texto. Faça qualquer coisa menos fechar os olhos e imaginar um elefante rosa em um banquinho. Posso advinhar? Nem acabou de ler o texto e você está rindo do seu elefante.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Mais além

"Há em cada ser vivo uma parte que deseja que ele se torne o que ele é: o girino em sapo, a crisálida em borboleta, o ser humano machucado em um ser inteiro. Isso é espiritualidade". Ellen Bass

"Ao vencedor...as batatas!?"

Freud tinha apenas 44 anos quando estava começando a vislumbrar que poderia ir além dos médicos de seu tempo. Estava interessado em saber do imponderável - o inconsciente psicanalítico seguiu duas pistas. A primeira, em 1900 foram os sonhos. Eles davam uma ideia ao sonhador do que o perturba, o que o move ou paralisa, o que teme e o que deseja. Apenas cinco anos depois ele escreve "Os chistes e sua relação com o inconsciente". Brincando, falamos o que não poderíamos dizer seriamente. Do humor fino, humor inteligente...o humor para poucos surge o sarcasmo e a ironia. Digamos que nestes casos temperamos a verdade com uma acidez, por vezes, tóxica para aqueles que nos ouvem. Mas não importa o tipo de humor que o leitor aprecie - ele serve muito bem ao seu próprio inconsciente. Estou refletindo hoje sobre a competição e seus derivativos. A competição começa bem cedo nos laços de família. Competimos com nossos irmãos pelo amor da mãe, pelo amor do pai, pelo bife maior. E aí que se forma a primeira semente da árvore, do arbusto ou da raiz da auto estima do sujeito. Somos seres influenciados pelas palavras. Pelo bem dito e pelo mal dito. Daí segue por toda a vida. Na escola, no amor ou no trabalho. Ser o primeiro, o melhor, o mais belo, o mais inteligente ou esperto nos levam à beira da questão ética. O importante é competir? Ou ganhar? É a dupla mensagem contraditória. "O importante é competir" <-> "O importante é ganhar!". Meu time tem fama de campeão em vice campeonatos e é motivo de muitas piadas de gosto bom ou duvidoso. Acho ótimo. Ser o primeiro às vezes cansa, estressa mesmo. A grande armadilha de acreditar demasiado no jogo da corrida é o prêmio. Machado de Assis dizia, na voz de um de seus muitos personagens: "Ao vencedor as batatas"! Um ser humano realizador e apaixonado pelo que faz pode ser fonte de grande inspiração para seus semelhantes. Ou ser odiado. Ou invejado. Mas o que é infinitamente pior: na busca pelo sucesso e o status pode jogar sujo. Cheat or Shit. E estragar tudo. Humanos precisam sim de vitórias. Necessitam de ar, um pouco de comida e água para viver. Mas necessitam de compaixão, espírito humanitário, comunicação e criatividade para continuarem vivos.

Terceiro - Ultraje a Rigor

Todo equipado, preparado na linha de partida, Daqui a pouco vai ser dada a saída Todo mundo nervoso e eu não "tô" nem aí (- "O importante é competir"!) Então tá, vamos lá, nem vou me preocupar. Já tá tudo armado pra eu me conformar. Eu vou tentar só pra não falar que eu nem sou atleta. Ia ser legal chegar junto na frente, mas iam falar que quero ser diferente. Tá bom demais, pelo menos eu não saio da reta. Por isso eu sempre sou: Terceiro! Oba, Oba!(4x) Terceiro! Pra mim tá louco de bom! Marcando passo vou seguindo, sem ser muito ligeiro. Com cuidado pra não ser o primeiro. É bonito, eu imito mas o pódio não é pra mim. (-"Eu não sou a fim!") Se eu me esforço demais, vou ficar cansado. Já dá pra enganar eu ficando suado... Se reclamarem eu boto a culpa no patrocinador!!! Não botaram fé porque não ia dar pé. Não ia dar pé porque não botaram fé. De qualquer forma, eu pego um bronze porque eu gosto da cor. Por isso eu sempre sou: Terceiro! Oba, Oba! (4x) Terceiro! Pra mim tá louco de bom!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

“A alma humana está contida nos nervos do corpo”

O melhor romance que já li sobre para paranoia foi escrito pelo mestre Freud em 1911 - quando ele escreveu e comentou o caso do Dr. Schreber inclusive a frase que dá título a este texto é deste paciente. No início do relato são prestados esclarecimentos de que o caso não tem interferências sobrenaturais. Um aspecto interessante é que o próprio paciente redigiu um vasto texto sobre sua própria enfermidade. Corajoso em se lançar em um tratamento pouco convencional no início do século passado foi ao consultório do controverso Dr. Sigmund Freud se submeter a recém inaugurada Psicanálise. (Digo polêmico porque falava de sexualidade de uma maneira pouco usual para época e parou para ouvir as queixas histéricas). O tema do divã é o sofrimento. Isso não quer dizer que o processo é sempre da ordem da dor. Às vezes, experimentamos o gozo de uma nova compreensão de nosso passado, presente ou da visão de futuro. Também não é proibido dar boas gargalhadas diante das falcatruas do inconsciente. Voltemos à paranoia. O dito Sr. Schreber sofria de um problema grave (para a época) se espantou, ou melhor, se apavorou diante de um desejo: "ser copulado como uma mulher". O prazer em imaginá-lo foi seu grande desespero. Homem correto, honesto e respeitado profissionalmente. Era verdadeiramente aterrorizado pela fuga de uma ideia com desdobramentos delirantes para justificar ou escondê-lo. Medo. Ilha do medo. A paranoia cresce quando "estamos sozinhos, ninguém nos ouve, quando chega a noite e podemos pensar"...parafraseando uma antiga música. O ciúme excessivo e doentio só pode ser compreendido pela via do desejo. Ora, se uma mulher nutre um sentimento de posse tão acirrado – acreditando que seu homem é desejado e assediado por toda mulher que dele se aproxima. Veja que ela julga suas adversárias atraentes o suficiente para despertar-lhe o desejo. A grande questão é de quem o desejo? Do objeto do ciúme ou do próprio ciumento? Muito antes de todas as passeatas e formalização dos casamentos entre pessoas do mesmo gênero, o mestre Freud observava: “Todo ser humano oscila, ao longo de sua vida, entre sentimentos heterossexuais e homossexuais, e qualquer frustração ou desapontamento numa das direções pode impulsioná-lo para a outra”. O desejo é como meio circulante de energia entre pessoas e objetos. É por natureza deslizante e muda de alvo com liberdade – o que proíbe ou libera são as convenções da cultura. A lei do incesto é, por exemplo, uma das mais antigas e fortes destas proibições. Motivo pelo qual posso amar profundamente meu irmão Samuel (leonino e meu oposto complementar) mas não poderei desposá-lo. O sim ou não, o certo e o errado, o preto ou o branco, são polarizações que fazem com que tenhamos uma cegueira inconveniente para os cinquenta tons de cinza que temos para escolher. Finalmente, a equação paranoide: Eu o amo. Eu não o amo (negação). Ele me ama (desejo). Ele me odeia (e me persegue) gera uma atitude cansativa de ataque, ou melhor dizendo de defesa para um ataque inexistente. No cerne da agressividade paranoica está o excesso de sensibilidade. Terminam a atirar pedras no telhado alheio esquecendo-se que o deles também é de vidro.

terça-feira, 21 de julho de 2015

10 Dicas de Nutrição & Psicologia

Conselhos alimentares básicos: 1) Beba água, muita água. Algo como em torno de dois litros por dia. Mas não tudo de uma vez. 2) Se beber muita água e comer muita fibra, você irá muito ao banheiro mas não se preocupe: acostume-se com o fato de que as pessoas passam algo em torno de três anos de vida no banheiro, em média. 3) Coma de 3 em 3 horas. Mas não coma muito chocolate, nem muita gordura, nem muita massa - isso vai te fazer mal. Mas não se preocupe porque se preocupar também pode te fazer mal. 4)Se o seu nutricionista mandar comer apenas metade de uma maçã, compre maçãs pequenas e coma inteira. O que fará com a outra metade se mora sozinha? Isso vai te lembrar aquela história de outra metade da laranja e pode deprimi-lo. 5) Se elas receitam tão pouca comida por que usar o termo porção? Deveria ser "porcinha" - até porque se comer realmente uma porção, vai engordar. 6) Metabolismo lento...metabolismo rápido...tanto faz. Trata-se de uma conta simples: o que você come - o que você gasta = tamanho da sua barriga. 7) Quando você estiver com uma roupa soltinha no metrô e alguém levanta pensado que está grávida: sente-se e agradeça. Agora se perguntar o nome, o sexo e para quando é o bebê. Responda na ordem: Samantha para daqui há quatro meses. É batata. Mas batata, só se for doce. 8) Se sopa e salada fosse tão gostoso haveria mais restaurantes especializados nisso. 9) Não importa onde você mora ou trabalha, não há restaurantes especializados em dieta. Todos querem seu dinheiro e que você coma, coma e coma. 10) Se for em um restaurante a quilo e te oferecerem um prato do tamanho de uma bandeja, não encha. Não vai ser bom para seu corpo, nem para o seu bolso ($). Em homenagem a minha amiga Monica e suas tentativas de curar uma esteatose...

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Estudando Português Sozinha

A mulher é honesta. O amigo é sincero. Orações coordenadas assintéticas Mas o marido só enxerga à sua volta indícios da traição inexistente. Oração coordenada sintética adversativa Ilha do Medo – Paranoia

Caso 39

Anunciei que falaria de "Sofrimento na Infância" mas recentemente pude reler um livro este título e me lembrei de um detalhe muito importante, ou dois. Primeiro, todo adulto foi um dia uma criança mesmo que não se lembre disso – como dizia o pequeno príncipe. A outra coisa é que não atendo ninguém com menos de 12 anos e, tecnicamente, 12 anos não é criança nem aqui nem na China. Eis o que queria dizer: vou falar dos sofrimentos da infância não na infância que eu me sinto mais firme pra falar ou escrever. Fato é que as crianças sofrem. Sofrem desde que nascem...ou pior, já nascem sofrendo. Seja normal ou cesariana o parto é, como se diz, um parto. Vejam vocês que no segundo caso elas sequer escolhem ou percebem que chegou o dia de sair. O pequeno futuro sujeito está lá nadando, dormindo ou comendo na barriga da mãe e aff...acenderam as luzes (Cruzes!) o centro cirúrgico é frio. O pulmão doi para dar as primeiras respiradas. Alguém te vira de cabeça pra baixo ou não – o que realmente não faz muita diferença quando não se sabe o que é cabeça nem o que é pra baixo. Como se não bastasse isso te futucam todo: nariz, orelha, verificam se o que viram na ultra está tudo certo mesmo. E depois de uns segundos que parecem a eternidade te colocam por alguns míseros minutinhos nos braços daquela que já conhecem a voz, o cheiro, o gosto e as batidas do coração mas que ainda não sabe que será sua mãe. Descrito assim rapidinho parece até divertido mas na vida real não é. Veja que tivemos até agora mais dor que prazer e as coisas ficam assim por um bom tempo. Não sabemos pedir o que queremos desde cedo ou quem sabe já não sabemos mesmo o que queremos. Não sou tão ruim assim em matemática. Sei que agora viria o caso ad.3 mas preferi dar uma parada e de recomendar este filme meio de terror – caso 39 – para os meus leitores. No filme ocorre algo que já aconteceu comigo, com amigos, parentes e pacientes. A criança da casa começa a dar as ordens. Vira um reizinho sem trono que chegou agora e já quer sentar na janelinha. Pega o trem da família andando e quer sentar na janela. E senta. Se a família faz o que ela quer, vive no céu. Se as pessoas a desobedecem, bem-vindo ao “hell”. Sério. Certos ditadores de menos de um metro, um metro e meio, se acham no direito de perturbar a paz de todos. Não tem essa de respeito aos mais velhos. O canal é o deles. A comida também. Os programas de final de semana e todos os detalhes das férias. Agora se resolvemos reivindicar um pouco, como pais e adultos que somos, de tempo para nós mesmos seremos fuzilados por uma culpa imensa. Devagar...devagar com o andor que o santo é de barro. Devagar com a dor porque os homens são de barro.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Gabriel - 8 anos

O "meu" Gabriel já tem bem mais de 8...fez 15 anos este ano. Próximo post: "Sofrimento na Infância" Por que você é Flamengo E meu pai Botafogo O que significa "Impávido colosso"? Por que os ossos doem enquanto a gente dorme Por que os dentes caem Por onde os filhos saem Por que os dedos murcham quando estou no banho Por que as ruas enchem quando está chovendo Quanto é mil trilhões vezes infinito Quem é Jesus Cristo Onde estão meus primos Well, well, well Gabriel... Por que o fogo queima Por que a lua é branca Por que a terra roda Por que deitar agora Por que as cobras matam Por que o vidro embaça Por que você se pinta Por que o tempo passa Por que que a gente espirra Por que as unhas crescem Por que o sangue corre Por que que a gente morre Do que é feita a nuvem Do que é feita a neve Como é que se escreve Reveillon http://www.adrianacalcanhotto.com/sec_textos_list.php?id_texto=162

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Caso ad.02

Me chamo Bruna. Na realidade minha mãe queria que meu nome fosse Flora Liz. Acho que seria legal. Com certeza seria a única. Já Bruna só na minha série tem duas. Na escola, nem sei. No face, tenho sete amigas Bruna. Ou seja. Normal. Acho que Flora Liz cairia muito melhor. Na realidade não me acho assim tão normal. Tenho uma vida meio diferente. Já morei em Recife, São Paulo, em Brasília, Nova Iguaçu e agora, Catete. Onde estou agora. Nasci no Rio. Em uma família meio grande. Somos três meninos e duas meninas. Isso já não é normal. Todo mundo que eu conheço tem um pai, uma mãe, ou dois pais, duas mães...mas quatro irmãos! Do mesmo pai e da mesma mãe...só eu. Isso já seria motivo para me considerar uma alienígena. Mas, tudo bem. Éramos muitos para pouca grana. O que acontece quando um casal de classe média resolve ter cinco filhos? Sobra menos para cada um. Menos roupas, menos sapatos, escolas mais simples etc...isso sem falar que quando tinha Toddynho era disputado a tapa...risos. (ou quase) Quando eu tinha treze anos meus pais se separaram. Sabe, acho que seria mais simples se eles se separassem antes. Com dois flhos pequenos seria bem mais fácil. Ou não. O que ocorre é que não só eles se separaram. Nós também. Com isso, ao contrário do que se poderia pensar, ficamos eu e minha irmã de quinze anos com meu pai. E minha mãe ficou em Nova Iguaçu com meus irmãos mais novos e minha avó que teve um AVC no ano passado. Eu só fui com a minha Irma porque não queria me separar dela também. De certa forma, achava que deveria defendê-la. O que é meio estranho porque mesmo sendo dois anos mais nova, me achava bem mais forte que ela. Minha irmã já estava pensando em Enem, essas coisas e o Catete era bem mais perto da escola. Hoje em dia ela faz Psicologia na UFRJ. Achei bacana mas acho que não é para mim ficar escutando os problemas dos outros o dia inteirinho...não sei como você consegue. Aff... Agora pense que eu não consigo tirar da cabeça um sonho. Ele já se repetiu varias vezes com poucas alterações. As vezes estou de carro, as vezes de moto. Acho ele muito louco. Minha irmã diz que é normal mas prometeu que, quando estudar melhor a tal da Psicanálise, ela poderá ajudar a interpretar o sonho. Sei que não ruim. Acordo feliz quando ele vem. Tenho medo de ser só um sonho. É como o contrário de um pesadelo. Lá vai: “Estou sozinha em uma casa. Uma casa sem divisórias. Só tem um cômodo e as janelas. É estranho que não se pareça com nenhum lugar que eu tenha vivido...e quando eu subo ou desço as escadas que levam a casa...elas somem! As vezes, está chovendo, as janelas de vidro começam a bater forte é meio assustador mas eu deixo. De repente, como é nos meus sonhos, apareço de moto ou carro – dirigindo. Tenho 17 anos mas só faço 18 em abril do ano que vem. Nunca pude dirigir nada alem de carrinhos de parque ou Kart. Meu pai é certinho demais para deixar. Quando eu olho para o lado, minha mãe está ao meu lado. Ela está de cabelo solto, as vezes de óculos escuros, as vezes ela prende o cabelo mas está lá. Sorrindo e nem dá opinião para onde estamos indo nem quando está na garupa da moto. Linda minha mãe”

Flora Liz

Alguns pais amorosos realmente são inspiradores em suas postagens de amor https://www.youtube.com/watch?v=bkZxbODN5zE

Caso ad.01

“Só a lembrança permite ao ser humano compreender sua existência” Marcel Lêgout Quando eu tinha 13 anos estava cursando o sétimo ano e, de repente, minha escola que estudara desde o jardim de infância começou a ficar muito diferente. Na época, tinha amigos de todos os tipos. E o maior deles Pedro Hugo. E as meninas eram bem lindas, com seus cabelos fininhos e cheirosos... A escola ficava a poucas quadras da minha casa e com o tempo minha permitia que fosse à pé, completamente só. Amava andar pelas ruas da Tijuca e perceber que já era praticamente um adulto. Os mendigos e pedintes sempre me instigaram – o que fazia as pessoas se tornarem assim? Quem eram elas? Onde estariam suas famílias? Depois das férias de Julho de 2012 coisas realmente estranhas ocorreram. Foram férias chatíssimas reduzidas a ver séries, jogar meus games prediletos e aguardar filmes bons serem lançados ou rever os clássicos. É o que nos resta uma vez que um George Lucas e suas guerras fictícias são muito raros em nossa pobre sociedade mundial. Quando retornamos as aulas, no início de Agosto, meu grupo de amigos tinha sido devastado. Incrível como trinta dias que para minha vida tinham sido tão insignificantes poderiam transformar mentes e diria até, espíritos. Paola perdeu a indesejável virgindade em Cabo Frio que segundo ela não estava nada frio. Conheceu um tal de Paulo no condomínio e agora só fala nesta criatura. Marcela foi ainda mais longe, já não era virgem e nestas férias fez como dizia aquela música meio antiga...”I kissed a girl ‘n I liked”. Se todos os problemas fossem o sexo e o rock ‘n roll estaria tudo bem. Mas o que realmente interferiu de forma violenta, bizarra em nosso grupo foram as velhas e não tão conhecidas drogas. É no mínimo interessante depois de termos ouvidos nossos pais, a televisão, os professores alertando para dizermos NÃO a elas, sempre teremos quem diga “talvez” ou até mesmo um retumbante “sim”. Veja que as coisas estão muito fora de controle por aqui. Não tenho nada contra um baseado, já fumei maconha uma vez e nem gosto muito porque tenho um sono, depois fome e depois até dor de cabeça. Além disso, tenho bronquite desde pequeno e se fumar cigarros ou qualquer outra coisa corro o risco de de ter que voltar a fazer natação – que considero o esporte mais tedioso e solitário, com todo respeito aos que a praticam. Gosto de jogar basquete, mas jogo meio mal e demoro a ser escolhido pelos times e outras humilhações semelhantes. Pois é, como eu ia dizendo, as drogas começaram a aparecer com mais frequência e além de maconha e haxixe aparecia também uns mais corajosos (ou medrosos) com bala ou doce...nomes até fofinhos para extasy e ácido. Drogas que mudam as pessoas mesmo e que misturadas com vodca e redbull transforma mesmo os mais quietos. As meninas morriam. As meninas morriam de vontade de transar e terminaram fazendo com um, com dois, com as amigas, com três. O fato é que, para alguém que não está no clima fica impossível não enxergar os perigos deste tipo de caminho. Às vezes, um ou outro vomita e já vi até mais de um deles desmaiou porque esqueceu de passar o lança, seja lá o que isso significa. Sei que aquilo tudo ficou meio demais para minha cabeça meio quadrada. Acho que já nasci velho. Gosto de usar guarda-chuva na mochila mesmo quando está sol. É um segredo meu mas bem que aproveitam a carona naquelas chuvas no final de um dia calorento. Assim fomos, eu e ele, devagarzinho ficando de fora dos programas, das festas, do cinema e finalmente mal nos falávamos na escola. Os pais deles nos olhavam com um certo ar de desespero, pedindo no olhar: “Salva a Julia”. “Dá uns conselhos para Gabi” ou “O que eu faço para que o Marcelo seja como vocês?”. Sei lá. Aquilo me dava um pouco de pena. Eram pessoas que eu costumava chamar de “tios” e “tias” e que me serviam cachorro-quente, pizza e pipoca quando éramos crianças. De alguma forma tudo aquilo me dava uma espécie de peso na consciência. Como se as escolhas erradas deles fossem um pouco de culpa minha. Ou como se meu silencio e o afastamento natural que nos abateu fosse não uma consequência mas a causa daquele sofrimento todo, daquela maluquice. Minha cabeça doía. Meu estomago doía. Dizem que o coração não dói, mas o meu era uma exceção e tinha a nítida sensação que deveria voltar, sumir ou ficar doido também mas tudo que eu conseguia era tomar meu remédio de alergia, meu remédio de bronquite ou dor de cabeça e dormir, dormir. Sinto dizer isso mas acho que queria dormir para sempre

Explicações Essenciais

Os estudos publicados nesta página são obras de ficção. Não correspondem a casos clínicos e nem devem ser utilizados como tal. Visam apenas a reflexão sobre as questões humanas recolhidas ao longo dos anos de prática profissional e dos mais de 400 pacientes atendidos por avaliação psicológica, orientação e reorientação de carreira e psicoterapia de base analítica.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Psycho Analisys


Prezados leitores: Depois de um longo período de silêncio e mudanças...preciso escrever. Gostaria de divulgar a página de meu novo projeto de vida profissional e agradecer a todos os que de alguma forma participaram da minha mudança profissional. Em três anos, consolidei minha atuação como profissional da área de saúde, psicóloga clínica e especializada em Carreira - orientação e reorientação vocacional. - E a familía? - Vai bem. Obrigada. Depois de cursar 2/3 de uma formação em Psicoterapia de Família decidi trabalhar com psicologia do trabalho, avaliação psicológica e a clínica de adolescentes e adultos. As experiências acumuladas no saudoso Unibanco por 12 anos em 5 áreas distintas: Call Center, Rede de Agências, Produtos, Projetos e Qualidade foram essenciais para meu desenvolvimento como profissional, gestora, avaliação de pessoas e realocação profissional. No facebook, divulgo vídeos e ideias mas neste espaço posso desenvolver com mais vagar, devagar, divagar.... https://www.facebook.com/psichoanalisys?ref=hl