sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Porque não escrevo sobre o meu pai.

Nasci em 1975. Era uma família simples. Uma professora de crianças e um pastor. Estava dentro da barriga da minha mãe em 1974 na quieta e calorenta cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Nossa casa era bem humilde. Exatamente em fevereiro conheceria este planeta, depois de algumas aventuras intrauterinas que contarei aos leitores em outra oportunidade. O resultado foi que o feto capixaba virou um bebê carioca. Eu não dei minha opinião. Por motivos óbvios. Certa vez afirmei que o papel dos pais terrenos se confunde com o do Pai Celestial. Falava sério. E não mudei de opinião ainda. Chegamos ao Rio com a mala cheia de expectativas. Viviane, minha irmã mais velha, já era bem mais experiente que eu. Tinha passado algum tempo nos Estados Unidos, onde papai estudou mais teologia e ela aprendeu inglês. Minha mãe professora na América tomou conta de uma bebê japonesinha mais nova que Vivi. Foi baby sitter. Babá em bom português. Gosto muito de falar dos começos. Diz o rei Salomão que é melhor o fim das coisas que seu começo. Particularmente, sempre achei que a frase estava invertida. Mas o homem que pediu sabedoria acima de tudo que poderia pedir, estava certo. Papai e mamãe estão vivendo hoje, em 2015, a última fase do ciclo da vida familiar. Desculpem a teoria no meio da poesia, mas são eles. Cinco ciclos no total. Morar sozinho. Casamento. Filhos pequenos. Filhos adolescentes. Lançando os filhos e seguindo em frente. O último, a sexta etapa recebe nomes diversos. Alguns chamam de Aposentadoria e Morte. Outros de Ninho Vazio. Não concordo com nenhum dos dois. O ninho nunca fica vazio se os dois pássaros iniciais são receptivos. Se a casa dos pais te boa comida e bom amor. Quanto a aposentadoria, se for fruto de um trabalho honesto e diligente, sobra amor. Em casa, sempre tivemos muitos livros e muito amor. Torcida, orientação e ajuda. Paixão é a palavra mais correta para os filhos dos filhos. O final das coisas pode ser, sim, melhor que o seu começo, caro Salomão. No final, descobrimos quem é quem. Os amigos verdadeiros e os que nunca o foram. Colhemos os méritos de nossas atitudes. Meu pai não apenas colhe, ele é mérito. Pastor Émerito. Mas continua trabalhando. Pastor aposentado é pastor morto. Deve ser por isso que o fofo Rev. Isaias Maciel será sempre incansável. Noventa, cem, cento e dez anos e tomara que Deus esqueça deles por aqui um pouco mais. Desculpe a gafe. Não escrevo sobre o meu pai. Ele é uma figura pública. Fala e escreve por ele mesmo. Eu espero, torço e amo. E já está bom demais.