terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Talento

Hoje conheci uma jovem. 28 anos, bancária, casada, moradora da Barra da Tijuca. Com quatro características como estas você já tem uma imagem ou até alguém parecido em sua mente. Modestas cinco informações e já temos aí um preconceito.

Mas, vamos aos fatos: nossa heroína de hoje tem a beleza da juventude com ares de maturidade. É bancária. Não por escolha. Por experiência, sabemos que raramente os bancários o são por escolha. Acontece. Para pagar a faculdade, primeiro emprego de um economista ou administrador cheio de sonhos...terminam capturados por esta armadilha. Salários não muito baixos, nem muito altos. Os bancos vivem comprando os talentos que se vendem. Não seria assim com todos os empregos? Trabalhamos por dinheiro. É fato. E já falamos disso o suficiente.

Vamos ao casada. Foi há dois anos. Paixão fulminante daquelas de olhos bem azuis, carro bonito, endereço da moda, simpatia e descontração. O noivo em questão é divorciado, dois filhos em idade adolescente que moram com a mãe. Um bom partido. Depois que se conheceram, nestes dois anos, nunca mais passaram um final de semana separados. Não é incrível? As vezes é. As vezes não. Como todo casamento para quem o conhece de dentro e não de ouvir falar ou ir a cerimônias. É daquele jeito. Tem dias que é ótimo. Tem dias que deus-me-livre. Mas casou. De papel passado, como se dizia antigamente. E de vestido de noiva e ainda mudou de nome. Prova de que é amor para toda a vida. Ou, pelo menos, este é o plano. Afinal, ninguém gosta de tirar documento. E já chega de amor e casamento.

Agora mora na Barra da Tijuca. Bairro emergente de classe média e classe alta no Rio de Janeiro. Não tem favela, nem morro. Um luxo.

Mas o que quero contar sobre ela não estava nestas primeiras frases. O que realmente importa é que ela tem um sonho. Um sonho daqueles bons de sonhar. Ela quer ser médica. Cirurgiã. Consertar as coisas nas pessoas. Na mesma hora, a imagino de jaleco branco, séria, correndo nos corredores de um hospital. E sorridente, ao final de mais uma cirurgia de sucesso. Avisando a uma família que ele já está fora de perigo. Mas, a realidade a puxa de volta. De maneira que os números, o mercado, o salário...o banco dominam tudo de novo. Talvez ganhe o mesmo como médica, ou até mais...mas isso só daqui há dez anos. Eu tenho dez anos? - Ela se pergunta. Formada, 38 anos, casada ou não, com filhos ou não, moradora da Barra da Tijuca, ou não.

A adolescência é mesmo uma fase de escolhas e decisões importantes. Os 30 anos também, os 40 e 50 também. Ter filhos ou investir na carreira? Mudar radicalmente? Quanto tempo me resta? Enquanto nós e nossa personagem se perguntam, o tempo passa. E assim fica a história desta semana. Sem final. Como a vida.

Liliane Cunha - Nova Friburgo, 1 de Novembro de 2.009

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sabedoria Milenar

Diz um sábio e velho ditado de autor desconhecido, para mim é de Márcio: "Comer e viajar são as quatro melhores coisas da vida". Boa Filosofia, Márcio. Mas prefiro a sugestão de uma mulher que viajou bastante e chegou a conclusão que o melhor era uma Santa Trindade: "Comer, Rezar e Amar" - ainda não li. Mas gosto do título, e de autobiografia. E da ordem. Cuide do Corpo, cuide da Alma e pode amar à vontade....

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Judeus

Estamos perto do natal, deveríamos estar escrevendo sobre Cristo. Tem muita gente falando Dele, tentando imita-Lo. Mas esta semana quero tratar deste anti-herói bíblico. Todos conhecem a estupidez de Sansão quando deixa Dalila cortar a fonte de sua força. Mas pouco prestam atenção nos fatos que envolveram seu nascimento.

A história está em Juízes, capítulo 13. O relato bíblico começa assim: "Tendo os filhos de Israel feito o que era mau perante o senhor, este os entregou nas mãos dos filisteus por 40 anos". O Deus-Pai do antigo testamento tinha um povo escolhido. Os judeus e só eles eram o povo de Deus. O povo era protegido e punido e submetido a Lei de Deus que tem um belo resumo nos conhecidíssimos dez mandamentos. Com o Deus-Filho houve uma democratização da graça de Deus. Todo homem que se arrependesse dos seus pecados e acreditasse em Cristo como Filho de Deus na Terra e fonte de salvação, já fazia parte do povo de Deus.

Mas voltemos aos judeus. Povo interessante. Conheci pouquíssimos em minha vida. Na verdade, 4 apenas: Daniela, Alberto, Andre e Márcio. Dois deles foram meus chefes. Todos muito inteligentes, competentes e agradáveis. Penso muito no que aconteceu com eles na Europa sempre me espanta esta perseguição tão recente que tanto nos ensina sobre tolerar as diferenças e superar preconceitos. Lembro-me de toda profusão de filmes rodados sobre este assunto, a maioria deles belíssimos com "A lista de Schindler", "A vida é bela" "O menino do pijama listrado" e o último que vi "Um ato de liberdade", que já gostei até pelo título. Pesquisei no google, oráculo da modernidade, e este período foi de aproximadamente três anos. Comparado ao antigo testamento, pouco tempo. A disciplina divina era aplicada constantemente. Um erro, um dilúvio. Outros erros, destruição de Sodoma e Gomorra. E quando nasce Sansão, está terminando mais um ciclo de quarenta anos de ira divina. Coincide com o tempo que perambularam pelo deserto para achar a terra prometida. Sairam de uma longa opressão no Egito para uma terra que "mana leite e mel"[..e que já estava ocupada]. Mas isso já é uma outra promessa, e uma outra história.

Falando em promessa, quando nosso heroí nasceu, a mãe dele recebeu uma promessa. Foi na conversa com o Anjo que foram dadas as instruções com relação aquele filho da promessa: não tomar vinho nem nada da videira e não ferir as pontas dos cabelos. Seria nazireu. Uma espécie de consagração especial. E o motivo da perda da força de Sansão foi justamente revelar a Dalila o segredo: se lhe cortassem os cabelos voltaria a ser uma pessoa normal. Talvez venha desta antiga história e de seu trágico desenrolar o preconceito absoluto do povo judeu com os casamentos mistos. Hoje está tudo muito mudado e 60% dos judeus casam com quem eles escolhem. O que aparece novamente na carta de Paulo aos Coríntios como julgo desigual.

Naquele menino, Deus começaria a dar novamente ao povo a Liberdade que Ele havia tirado. A mãe de Sansão não tem nome. Diz a bíblia somente isso: que era estéril. Uma mulher já pouco valia. Uma que não podia dar filhos a Manoa, seu marido, para quê serviria? Apesar da falta de nome, sua percepção exotérica era bem maior que de Manoa. Identificou prontamente o Anjo do Senhor, enquanto que a obtusidade do marido se manifesta no desejo de alimentar fisicamente o Anjo. Ao que este responde: use este mesmo cordeiro para holocausto ao Senhor. Quando o Anjo sobe na fumaça do sacrifício, ele constata, tardiamente: "Era um Anjo!" diante do olhar entediado da mulher. Em desespero, ele afirma: - Vimos a Deus, vamos morrer. E a mulher sem nome mas com sabedoria responde:"- Não vamos morrer, temos uma promessa e um bebê que é o síbolo da confiança de Deus em nós". E quem tem promessa, não pode morrer - ressoa em minha alma um cântico gospel.


Liliane Cunha - Rio de Janeiro, 8 de Novembro de 2.009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Taxi Driver - Robert De Niro

Hoje vi um clássico. Sempre tenho medo das mensagens dos filmes famosos. Tenho medo dos jovens também. Adoro De Niro velho, fiquei com medo de me decepcionar. Foi um alívio. Já era um gênio em taxi driver...a essência não muda. Apesar de sermos metamorfoses ambulantes.Vi o filme 3 vezes: Em Inglês, Português e Francês.
Minha frase predileta do filme(em português): "Os dias seguem sem parar. Sinto falta de uma direção na vida. Não acredito que o narcisismo mórbido seja o único caminho...acho que preciso me tornar uma pessoa normal como todas as outras". Triste ilusão. De Niro é De Niro. Nesta vida, não vai conseguir ser normal.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O amor é um mobile.

O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado em cada instante (...) o amor eu não o conheço. E é exatamente por isso que o desejo (...) me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Paulinho Moska

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Minha irmã mais velha (falado)

Hoje celebramos os 40 anos de Viviane. Agradecemos pela vida dela até aqui e desejamos no repetidíssimo parabéns que ela tenha muitos anos de vida e blá, blá, blá...

Eu, em nome dos irmãos, quero deixar uma palavra especial para você. Escrevo uma palavra e já corrijo: São duas: Muito Obrigada.

Obrigada por ser nossa primogênita. Ser primogênito não é nada fácil. O pequeno bebê já nasce renomeando a família inteira: bisavós, avós, tios, primos e, principalmente e definitivamente, PAIS. Você fez do jovem casal Hélida e Guilhermino os, há 40 anos, pais. Você representou o início da família Barreto da Cunha. Uma união de capixaba com mineiro, nascia em Cachoeiro do Itapemirim, alguns pensaram “terra de Roberto Carlos”. Não concordo. Nasceu alguém muito mais importante lá – minha irmã Viviane.

Você adocicou a mamãe, ajudou papai no início da carreira dele, foi com eles para os EUA. A vida lá não foi fácil. Papai estudava, você brincava. Mamãe trabalhava, você brincava...e tenho certeza que todo este trabalho foi muito importante para eles.

A pequena família voltou ao Brasil e em Vila Velha, sob os olhares curiosos dos já mencionados, vós, tios, tias e primos...todos animados combinando praia, passeio de barco e aquela mini-americaninha linda em silêncio...você não entendia!! Até que mamãe, cumprindo sua missão de traduzir o mundo para você, explica: “We are going to a big, rude swimming pool” !!! E você abriu este mesmo sorriso lindo, o mesmo que você tem hoje, com outros dentes...

Como você sabe comecei um curso de Terapia de Casal e Família com a Dra. M. Cristina Werner (fui a apenas 23 aulas e parei) mas aprendi coisas lá que levarei para toda minha vida. Por exemplo, que os irmãos são ‘nossa maior ligação com o passado e possivelmente quem vai sempre te apoiar no futuro’ (Fonte: Filtro Solar), nossos pais, tão essenciais partirão antes de nós, nossos filhos, provavelmente, nos verão partir.

Infelizmente, muitas vezes não damos a eles a importância devida. Peço desculpas públicas para você, Vivi. Por todas as vezes que não soube dar valor a você. À sua bondade, a sua forma carinhosa de cuidar de mim.

Mas, voltemos ao agradecimento. Obrigada por ter insistido com eles que você precisava de uma irmã, um irmão, qualquer coisa...que não agüentava aquela solidão dos filhos únicos, e ´não me venham com primos, eu quero um irmão!!!” (Fonte: Beatriz Cunha Duarte)

Eis o que queria dizer: A Vivi é viva!!! Ela vai na frente...Não se conformou em nascer primeiro...cresceu primeiro, se formou, começou a trabalhar, conheceu Santa Cruz, andou de trem, namorou primeiro (acreditem...não fui eu), dirigiu primeiro, comprou um ap, teve um primogênito, deu o nome de Guilherme, homenageou Guilhermino primeiro, transformou papai e mamãe em Vovô e Vovó – título do qual eles muito se orgulham...e agora, faz 40 anos primeiro!!!

Seu nome quer dizer VIVAZ e tem origem na língua inglesa...tenho em minhas lembranças infantis fatais papai dizendo”A Vivi é Viva!!!” e a mamãe concordava: “Muito esperta!! Lê bem, passa direto em todas as matérias, passou no vestibular...”Já chega...todos sabemos do seu sucesso pessoal e profissional. Parabéns pela vida que você tem levado...e, sem obsessão, Obrigada mais uma vez!!! Por tudo...por ter ido na frente...TE AMO!!!

Liliane Cunha – Rio, 12 de Dezembro de 2.009

sábado, 12 de dezembro de 2009

Frase do Dia:

"A formiga só trabalha porque não sabe cantar" - Raul

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Escrever todo dia???

Tenho este blog há 15 dias e tenho 4 seguidores. A Nélia, ou seja, 25% do meu público pediu para eu publicar algo todo dia, uma frase, uma experiência. Gostaria de responder publicamente a minha amiga do coração. Prometo ver o blog todos os dias, responder comentários mas não me peça para escrever por encomenda. Eu sei que coisas interessantes acontecem todos os dias - hoje, por exemplo, foi um dia fantástico - fiz exame de sangue logo cedo, ganhei parabéns do meu chefe, conheci pessoas maravilhosas a Jaqueline, o Neto e a D. Evarista mas não posso falar de todos eles, cansaría os meus leitores com excesso de informação, que considero uma doença de nossos dias. Ademais, [escrevo "ademais" e penso nesta palavra esquecida da língua portuguesa] isso não é um diário, é uma tentativa honesta de escrever e ser lida, comentada, criticada e expor minhas idéias e oferecer meus serviços como palestrante, orientadora vocacional, reorientadora de carreira e analista.
Prometo, sobre a bíblia se precisar, que publicarei um texto por semana. Um seguidor anônimo , que prefere não se identificar reclamou comigo: tenho que terminar uma tese de doutorado, editar meu livro e ainda ler seu blog...é muito dever de casa!!! Assim atendendo a mim mesma, porque li uma vez que "quem quer agradar a todos, termina não agradando nínguém" (Fonte: história infantil O velho, o menino e o burro)não escreverei todos os dias. Ou melhor, escreverei mas não mostrarei para todo mundo...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Você não pode errar!

O nome deste blog foi escolhido com muito carinho. Poderia se chamar carreira e família, até soa mais bonito. Mas estaria na ordem errada. Quando Freud foi questionado sobre a normalidade, respondeu de forma quase frugal e simplória: "- Uma pessoa normal é aquela capaz de amar e trabalhar". A mesma ordem, portanto. Primeiro, o amor. Depois, o trabalho.
O jogo do Fluminense foi realmente empolgante. - Verdadeiros guerreiros, lutando por um resultado improvável, comentei com um amigo tricolor. "- Guerreiros??? Eles erram durante jogos seguidos e só porque havia uma esperança no fim do túnel e jogaram com um pouco mais de esforço viraram guerreiros??". Meu interlocutor é amigo e executivo de um grande banco, extremamente competente mas não admite erros de seu time. Tentei mais uma vez com minha amiga e "personal coaching": "- E o Fluminense, hein? - Perguntei com medo da resposta. Ela, com a segurança e intensidade que costuma dar as palavras""- O que foi aquilo, o Fred??? Sei que errar é humano. Mas, com o salário dele, capitão do time, resultado a conquistar. Não pode, não." O descontrole emocional do craque estava alí, para quem quisesse ver. Na década de 90, o termo inteligência emocional ganhou uma popularidade abjeta. O best-seller de Daniel Goleman trouxe à luz um conceito antigo da psicologia com uma roupagem e contribuições irresistíveis. Faltou no craque...acho que ele não leu o livro.
A Renault afirma e seu presidente brasileiro Ghosn confirma que "a empresa não tem direito ao fracasso (...) mas os indivíduos tem direito ao fracasso, sem cair na complacência". Só resta uma dúvida: A empresa é feita de quê, Sr. Ghosn?
Eis o que queria dizer: o mundo mudou. As empresas exigem cada vez mais em tempo cada vez menor. O volume de informações recebidas por um executivo em um dia de trabalho [pelo email, telefone e reuniões] seriam consideradas acima do nível saudável para qualquer avaliador pré-web, os carinhosamente chamados webssauros.
E, finalmente, os resultados. O que importa são os resultados. Maquiavel e seus conselhos imortais ao rei seriam um pouco light. Para certas culturas organizacionais serem chamados de maquiavélicos seria um elogio indevido.
A onda de suicícios na França, começando pelo caso France Telecom e atingindo empresas globalmente conhecidas como a Pegeout e a Renault nos deixam envergonhados. Certas coisas não mudam nem em 2.000 anos. Pessoas precisam ser tratadas com respeito e amor. Pelas empresas, pelas outras pessoas. E as consequências do descumprimento deste princípio podem ser letais: morte por vontade própria ou pelas inúmeras doenças advindas do mercado de trabalho. O que também nos espanta é a carência emocional. Falta família. O suicídio de um homem de 55 anos, pai de 3 filhos e funcionário da Pegeout há 29 anos que se matou enforcando-se no pátio da montadora, deixa uma mensagem para a empresa, é fato. Mas deixa uma mensagem muito estranha para seus 3 filhos.
Meu apelo desta semana é: Não confunda sua vida com sua carreira! Vamos dar aos problemas o tamanho que eles tem. Comparados à vida, a família e ao ser humano, os organizacionais não passam de soluços. Não vale a pena matar nem morrer por eles.


Liliane Cunha - Rio de Janeiro, 4 de Dezembro de 2.009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Influências e Agradecimentos

Sou apaixonada por cinema e literatura. O cinema veio depois. No início, era o livro. Fui criada em uma casa coberta deles. Meu pai, pastor, PHD em Teologia, formado em direito e filosofia. Minha mãe, professora formada em letras inglês e português. Gosto dos novos e do cheiro das livrarias. Gosto mais ainda dos velhos, já lidos, marcados. São como pessoas. Ler é como conversar. Sentia-me mais segura com um livro embaixo do braço. Levava no ônibus, para a escola. Lia nos recreios. Antes dos livros, o recreio sempre foi um problema. Todas aquelas crianças, jogando bola, correndo. Eu, não. Usava óculos e tinha uma medo incrível de ser atingida por uma bola. Temia a bola como o juízo final - parodiando Nelson Rodrigues. Eis o que queria dizer: minha vida e modesta obra é e sempre será um plágio. Um mosaico dos amores que me afetaram. Me apaixonei pelo livro, como por um amante.

Lygia Bojunga foi uma das primeiras paixões de minha infância cumpriu comigo a missão que relata em um de seus belíssimos textos, que "seu trabalho era construir livros para que as crianças possam morar neles". Morei lá muito tempo. Talvez tempo demais. Tinha medo das pessoas.

Assim fui sendo capturada pela paixão pelo humano, pelo romance, pela poesia, pela emoção...os escritores vêem a vida de dentro. Escolhi fazer psicologia por isso. Queria ver as pessoas por dentro, principalmente as que sofrem. O sofrimento tem uma poesia natural. As pessoas estão lá, fazendo análise e de repente, fazem poesia. Assim meio sem querer como o poeta do filme "O carteiro e o poeta". Ele o procura por amor, para conquistar uma mulher. Mas os dois eram poetas. Neruda publicava. Ele não.

Já começo a falar de cinema. Esse amor veio depois. A mesma vibração, outro tipo de arte. Não gosto muito de livros que viram filmes, como todo mundo. Mas agora estou aprendendo a admirá-los. "Marley e eu", "O caçador de pipas" e "Ensaio sobre a cegueira". A ordem foi sempre essa, primeiro o livro. Depois, o filme. Na verdade, quando leio o livro faço um filme na minha mente. Nunca igual o do diretor e roteirista. É como se fosse um outro lendo o livro para você. Gosto de ler para os outros. Principalmente quando estou apaixonada. Pelo livro ou pela pessoa. Já li para cegos. Mas agora este trabalho voluntário está em baixa. Estão vendendo livros em audio nas livrarias. Uma pena.

Esta semana escrevi apenas para agradecer. A todos aqueles que investem em produzir livros e filmes. Que nos fazem rir, chorar, viver por outros. Me sinto uma mulher de sorte. Já vivi muitas vidas.


Liliane Cunha - Rio de Janeiro, 17 de Novembro de 2.009