segunda-feira, 22 de março de 2010

Caim

“A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.” – José Saramago, Caim, Cap 6

Terminei com pena as últimas palavras do já lançado best seller de 2.009. Impossível não remeter a leitura que fiz em 2.006 do Evangelho segundo Jesus Cristo muito melhor em todos os sentidos que este novo livro. No anterior, a história narrada nos quatro evangelhos toma contornos totalmente novos e criativos. Em Caim, Saramago narra histórias que para mim como filha de pastor, estudando a bíblia há 28 anos, dando aulas há 3, são mais que conhecidas e lidas. Adão e Eva, Caim e Abel, Abraão, Ló, Sodoma e Gomorra, Torre de Babel, Moisés, Jô e finalmente, Noé. Saboreei o passeio pelo velho testamento como que toma um bom vinho do porto. Aos poucos, com vontade de viajar em seus sabores antigos. Aproveito para publicar, como degustação uma reflexão sobre a estranha justiça divina grifado por mim:

“Como fica sobremaneira demonstrado, o senhor, além de estar dotado por natureza de uma excelente cabeça para guarda-livros e ser rapidíssimo em cálculo mental, está o que se chama rico. Ainda assombrado pela abundância em gado, escravas e ouro, fruto da batalha contra os madianitas, caim pensou, Está visto que a guerra é um negócio de primeira ordem, talvez seja mesmo o melhor de todos a julgar pela facilidade com que se adquirem do pé para a mão milhares e milhares de bois, ovelhas, burros e mulheres solteiras, a este senhor terá de chamar-se um dia deus dos exércitos, não lhe vejo outra utilidade, pensou caim, e não se enganava. É bem possível que o pacto de aliança que alguns afirmam existir entre deus e os homens não contenha mais que dois artigos, a saber, tu serves-nos a nós, vocês servem-me a mim. Do que não há dúvida é de que as coisas estão muito mudadas. Antigamente o senhor aparecia à gente em pessoa, por assim dizer em carne e osso, via-se que sentia mesmo certa satisfação em exibir-se ao mundo, que o digam adão e Eva, que da sua presença se beneficiaram, que o diga também caim, embora em má ocasião, pois as circunstâncias, referimo-nos, claro está, ao assassíneo de Abel, não eram as mais adequadas para especiais demonstrações de contentamento. Agora, o senhor esconde-se em colunas de fumo, como se não quisesse que o visse. Em nossa opinião de simples observadores dos acontecimentos andará envergonhado por algumas tristes figuras que tem feito, como foi o caso das inocentes crianças de Sodoma que o fogo divino calcinou.” – Jose Saramago, Caim, Cap 8.

O fato é que no início do livro, longe de mero observador, o autor traz duas idéias primorosas que chamaram minha atenção. A narrativa de Adão e Eva ganha novos contornos. E, com incrível criatividade de um texto de 4 ou 5 versículos nasce a história de Caim. Lilith é a principal coadjuvante, obviamente não de acordo com a narrativa bíblica. Ela é uma matriarca, dona das terras de Nod, primeiro emprego do anti-heroi. Trata-se do reconhecimento claro de que houve uma época do mundo comandada pelas mulheres da antiguidade. Elas traziam em si o dom supremo de gerar pessoas e, com o parco conhecimento do processo de reprodução humana, por vezes considerado místico ou sobrenatural.

O psicanalista e meu mestre desde os tempos de faculdade, MD Magno expôs em uma de suas inesquecíveis palestras que a humanidade e cada ser humano passa por 5 fases ou impérios: o da Mãe, o do Pai, o do Filho, o do Espírito Santo e finalmente, o do Amém. Lilith é parte do primeiro império. Os patriarcas como Abraão, Isaque e Jacó são os precursores do segundo império. Jesus Cristo comanda e funda o império do Filho que já dura mais de 2.000 anos. Agora, estamos tendo sinais aqui e acolá do Espírito Santo. Incompreendido pelo maior parte das igrejas, adorado por poucos. Acredito que ele está sempre ao nosso lado: no vento, nos pássaros e dentro de quem se sensibiliza o suficiente para escutá-lo. O império do Amém vai ser uma loucura - e de certa forma também mostra seus sinais. Quando para tudo que acontecer ou ouvirmos, falaremos amém. É a aceitação completa de que a estrutura da mente está pronta pra revirar. Nosso século está revirando os conceitos de família, igreja, trabalho, sexo...enfim, estamos próximos do amém. De uma mente sem espantos diante do humano.

Finalmente concluímos que a abordagem de saramago (com letra minúscula, representando a ira divina...rsrs) é tão judaico-cristã como no Evangelho Segundo Jesus Cristo onde ele deixa claro que a vinda de Cristo amplia a influência de Deus na terra. Acho que rabinos, padres e pastores esclarecidos não deveriam criticá-lo tão duramente mas elogiar e agradecer a divulgação de Deus e seu livro.

Apesar das críticas a seu deus com letra minúscula, acho que o nosso bem maduro colega morrerá cedo ou tarde (espero que tarde para nos presentear com mais obras-primas) com as bênçãos de Deus.

sábado, 20 de março de 2010

O primeiro Blue ray a gente nunca esquece

Minha mãe ganhou de presente de casamento o presente que qualquer cinéfilo vivo ou morto adoraria - um player blue Ray. Foi bacana estreá-lo em família e aproveito para comentar o filme escolhido por meu pai só podia ser comédia.
Recém-formada (2009) tem como atriz principal a belíssima Alexis Bledel faz uma estudante de 22 anos que ao terminar a graduação está confusa, desempregada e morando com uma família impagável. O que justificaria usar o filme para ilustrar família com filhos pequenos, adolescentes, lançando os filhos e seguindo em frente e aposentadoria e morte. Quatro fases em um só filme...Para minha surpresa, trata-se de um raro caso de comédia com excelente conteúdo e muito, muito romântica.
A bela contracena com uma indecisão justificável - Zach Gilford faz o amigo interessado e ninguém mais que nosso amado Rodrigo Santoro faz um vizinho irresistível de 34 anos e estiloso, charmoso, gatíssimo, etc...
A cena mais linda do filme é uma conversa na piscina do já elogiado Santoro quando ele conta para ela que vai retornar ao Brasil e que nesta equação de ser feliz metade é sobre o que fazemos das nossas vidas e a outra metade é quem está ao nosso lado. Lindo. Verdadeiro. Romântico...ai, ui.
Fico feliz em dizer que a inspiração voltou como as águas de março. Em breve, publico meu comentário sobre caim de Saramago...

sábado, 13 de março de 2010

Inspiração: Cadê você???

Prometi postar toda semana mas temo dizer que minha inspiração sofreu um desaparecimento súbito e simplesmente não tenho como forçar meu tesão por escrever não trabalha por encomenda e não obedece sequer a mim. Isso esplica o fato de não ser jornalista mas psicanalista e bancária.

A quem interessar possa: esta foi a semana de mergulho no pântano da alma, sem amigos do lado, produção de textos cheios de lodo que meus leitores não merecem. "Pergunto a nuvem preta quando o sol vai brilhar mas há tempos que perdi meu medo da chuva" - Raul Seixas.

E em homenagem a ele hoje passei o dia na praia igreja que por vezes prefiro à tradicional. Nelson Rodrigues acreditava que deus só frequenta os templos vazios, vou lá durante a semana...e no final da tarde tomei um banho de chuva de pura energia com o amor da minha vida - minha filha de 10 anos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Abraços Partidos

Almodóvar nos presenteia pouco antes do natal com mais um clássico. Penélope Cruz no elenco. Críticos e comentaristas falam em autobiografia. Absolutamente imperdível.
OS temas são implacáveis: paixão, ódio, desejo, cegueira, nome do Pai, carreira, violência contra mulher, e contra os homens, uso de drogas, morte e suicídio. Uma salada para psicanalista nenhum botar defeito ou tirar qualidades. Pareceu-me que houve uma pequena mudança de foco nesta nova obra. Os centros das histórias costumam ser essencialmente femininos com homens coadjuvando bem ou mal. Apesar de deixar claro a obsessão por Penélope e o uso dos homens como escada, trampolim, tapete, patrocinador ou carrasco. Quem dirige e conta a história é o roteirista e diretor. Cego, casado, com um filho e uma mulher que sabem que o show deve continuar. O segredo sobre seu caso com Cruz e o desfecho trágico, o silêncio de quatorze anos pesando sobre todos. A dupla personalidade ou alterego do escritor que faz o que quer como Harry Caine – um interessante trocadilho com a palavra vulcão em inglês.

E o final melancólico mas estranhamente esperançoso que com os fragmentos de uma tragédia é possível montar, ainda que às cegas como o príncipe de Rapunzel e Édipo, o tão esperado filme de comédia. Chicas e maletas. Mulheres e suas malas, suas mudanças...Almodóvar só para meninos é imposssível. Paquera com o masculino para contar do que se passa com as que se calam e as que falam.

Mulheres – nosso tema eterno.

Liliane Cunha - Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2.009

quarta-feira, 3 de março de 2010

Seguidores

Me perguntaram porque exponho seguidores do Carreira e Família e não do blog oficial. É simples. Não quero seguidores, só curiosos. Se tivesse um carro poderia colocar aquele antigo plástico:

"Don't folow me, I'm lost too".

Mas vamos tentando...e raras vezes conseguindo equilibrar os famosos pratinhos da vida saudável. Pois neste espaço interessa o que pode dar certo, como nos Titãs

terça-feira, 2 de março de 2010

Sociedade Alternativa - publicamos a Lei

Todo homem tem direito
De pensar o que quiser;
De amar a quem quiser;
Viver como quiser;
Tem direito de morrer quando quiser;

Direito de viver, viajar sem passaporte
Direito de pensar, de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar, de dizer e de escrever
Direito de amar como e com quem ele quiser.

Essa é a nossa lei e a alegria do mundo.

Trabalhar quando quiser
Brincar quando quiser
Beber o que ele quiser
Viver com quem ele quiser
Desenhar, pintar, cantar, comprar
Vestir-se como ele quiser

Há de ser tudo da Lei
O amor é a Lei
Mas amor só com liberdade
Viva a sociedade alternativa!

Josh Nash prêmio Nobel de economia complementa Adam Smith:

"A melhor solução é alcançada quando cada um busca o melhor para si. E para os outros."